sábado, 26 de abril de 2014

Problemas no Coração



Dia desses comecei a me sentir muito mal e vi que precisava ir ao médico, tinha de encontrar alguém que resolvesse meu problema e me desse um analgésico para aliviar a minha dor. Enchi-me de coragem e fui e busca de socorro.
Chegando ao consultório, o médico me indagou:

- Olá, minha jovem! O que lhe traz aqui?
- Eu estou sentindo uma dor muito grande, doutor. Preciso de sua ajuda!
- Que tipo de dor? Onde é essa dor?
- É uma dor muito forte. No coração. Eu tenho cura, doutor?

O profissional iniciou os procedimentos e começou a me examinar para descobrir o que me afligia. Nesse momento comecei sentir um ligeiro incômodo. Deu-me vergonha ao cogitar a possibilidade de o médico descobrir que meu problema é proveniente do mau uso e de hábitos nocivos. Ele veria as marcas causadas por desilusões sofridas, perceberia as cicatrizes que os ferimentos passados deixaram. Eu entreguei meu coração a quem não cuidaria dele. Eu confiei em pessoas que não deveria confiar. O pobrezinho foi machucado, pisoteado e desprezado. É claro que estava bem estava desgastado e a culpa é toda minha. Já faz um tempo que eu mudei meus hábitos e passei a cuidar melhor do meu coração. Eu não confio nas pessoas, nem as deixo se aproximar dele. Cuido para que ninguém o machuque mais, me esforço para que nada o perturbe. Ele vai se recuperar!

Enquanto eu viajava em meus devaneios o médico continuava trabalhando, debruçou-se sobre o meu coração examinando-o minuciosa e delicadamente.

Ao final do exame veio o diagnóstico:

- Minha jovem, você não sabe amar, você não sabe viver. Você está usando seu coração de maneira errada!
- Eu sei doutor! Eu entreguei meu coração a quem não deveria, ele foi muito maltratado. Está muito machucado.

Foi quando ele me surpreendeu com a prescrição:

- Não! Engano seu! Seu coração está comprometido pelo desuso. Faltam-lhe sonhos! Você trabalha para pagar contas, dorme para acordar no dia seguinte, come para matar a fome, estuda para terminar a faculdade. Isso não é viver. É sobreviver! Viver é se arriscar, é amar a pessoa errada, ao menos uma vez, e se permitir o devaneio. É perder-se tentando se encontrar. É ter medo de perder ao arriscar, arriscar assim mesmo e acabar perdendo, você recupera depois. É rir das próprias bobagens, é dar um jeito de ver algo positivo em tudo, por mais obscuro que possa parecer. Viver é ter uma Idéia, defendê-la a qualquer custo e abandoná-la quando julgar ser necessário. Permita-se! Viver é exercitar o afeto, a confiança, a gentileza, a paciência e, sobre tudo, o sonho! Você é jovem demais, bonita demais, saudável demais para se preocupar tanto, para se privar tanto, para desconfiar tanto. Permita-se! É bobagem procurar sentido para a vida quando já se tem cinco. Aprecie o pôr-do-sol, sinta o cheiro de uma flor, ouça o som dos pássaros, coma a sua fruta preferida, acaricie o rosto de uma criança! Permita-se! Viva! Se entregue! Seu coração está novinho em folho e ansiando novas emoções. Não o prive disso. Permita-se!

Saí daquele consultório disposta a repensar minhas atitudes e rever meus conceitos. Eu vou me permitir! Comprometi-me a voltar lá quando começasse a seguir as orientações médicas. Ranzinzice mata. Mau-humor também!

Verônica