Lara sempre teve sua imagem associada a um belo
sorriso, uma boa companhia, profundas gargalhadas e leveza. Creio mesmo que era
um dom que ela tinha essa capacidade de dar leveza à tudo. Por muitas vezes,
quando algum problema me tirava o sono e criava em meu estômago aquela
inquietação, eu procurava a Lara para conversar. E, era incrível, como ela
conseguia fazer-me crer que aquele problema imenso não era nada mais que um
pequeno contratempo e que muito facilmente poderia ser solucionado.
Ela era o tipo de pessoa que não se apegava à
dor, pelo menos não da forma que nós mortais, costumamos no apegar. Lara
entendia a dor como algo até mesmo belo. Dizia que “a dor lapida a alma” e por
isso era indispensável para nós, seres em evolução. Porém, não era preciso ver
a dor como essa coisa monstruosa que nos definha. Não. A dor não precisava ser
vista assim.
Reclamar da vida? Nunca ouvi reclamações vindas
da Lara. Ela sempre tinha um pensamento que vestia lógica na situação
conturbada que vivenciava. Os fatos atuais eram a colheita de um plantio
pretérito. E se tinha algo que Lara fazia com muita precaução era justamente
esse plantio. Escolhia à dedo as sementes a serem plantadas, pois gostava de
harmonia e sorrisos. Lara era incrível!
Aprendi com ela que existem outras infinitas
formas de ver uma situação. Aprendi que não sou o centro do universo, que meu
problema não é maior do que o seu que me lê nesse momento, por exemplo. Lara me
fez entender a responsabilidade que tenho com a minha vida. Que reclamar dos
meus problemas não os resolverá, muito pelo contrário, só acentuará e
intensificará sua ação sobre mim.
Por muitas vezes me perguntei “será que ela é
desse mundo?”, pois sempre achei incrível a forma que ela tinha de encarar a
vida. A disponibilidade em ajudar, em escutar, em abraçar, em silenciar, em
amar. Lara ensinava pelo exemplo. Jamais
se perdeu naquela coisa de “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. Lara
se empenhava em ser reta. Acreditava na vida. Sorria pra vida. E a vida sorria
pra ela.
Sinto saudade da Lara. Sinto muita saudade
dela. Quando vejo os problemas se agigantando, paro e penso em tudo o que ela
me ensinou. Procuro rápido um outro ângulo para enxergar a situação antes que o
desespero apareça. Antes de tratar alguém, penso como eu gostaria de ser
tratada, lembro da reciprocidade tão peculiar à Lara, lembro da empatia que
fazia dela um ser tão iluminado. Lara sempre soube sentir a dor do outro.
Hoje parei em frente ao espelho enquanto fazia
minha maquiagem, mirei meus olhos para acertar o traço do lápis e, por um
instante, percebi que ela ainda estava lá. Por um instante ainda ví aquele
brilho. E ouvi mesmo ela sussurar com aquela voz tão doce “não esqueça que eu
sou você. Se não está me vendo, já sabe o que fazer, né? Muda o ângulo!”.
Sorri. Ressurgi. Segui.
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