segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Espelho Me Disse

(by Cinthya)

Lara sempre teve sua imagem associada a um belo sorriso, uma boa companhia, profundas gargalhadas e leveza. Creio mesmo que era um dom que ela tinha essa capacidade de dar leveza à tudo. Por muitas vezes, quando algum problema me tirava o sono e criava em meu estômago aquela inquietação, eu procurava a Lara para conversar. E, era incrível, como ela conseguia fazer-me crer que aquele problema imenso não era nada mais que um pequeno contratempo e que muito facilmente poderia ser solucionado.

Ela era o tipo de pessoa que não se apegava à dor, pelo menos não da forma que nós mortais, costumamos no apegar. Lara entendia a dor como algo até mesmo belo. Dizia que “a dor lapida a alma” e por isso era indispensável para nós, seres em evolução. Porém, não era preciso ver a dor como essa coisa monstruosa que nos definha. Não. A dor não precisava ser vista assim.

Reclamar da vida? Nunca ouvi reclamações vindas da Lara. Ela sempre tinha um pensamento que vestia lógica na situação conturbada que vivenciava. Os fatos atuais eram a colheita de um plantio pretérito. E se tinha algo que Lara fazia com muita precaução era justamente esse plantio. Escolhia à dedo as sementes a serem plantadas, pois gostava de harmonia e sorrisos. Lara era incrível!

Aprendi com ela que existem outras infinitas formas de ver uma situação. Aprendi que não sou o centro do universo, que meu problema não é maior do que o seu que me lê nesse momento, por exemplo. Lara me fez entender a responsabilidade que tenho com a minha vida. Que reclamar dos meus problemas não os resolverá, muito pelo contrário, só acentuará e intensificará sua ação sobre mim.

Por muitas vezes me perguntei “será que ela é desse mundo?”, pois sempre achei incrível a forma que ela tinha de encarar a vida. A disponibilidade em ajudar, em escutar, em abraçar, em silenciar, em amar.  Lara ensinava pelo exemplo. Jamais se perdeu naquela coisa de “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. Lara se empenhava em ser reta. Acreditava na vida. Sorria pra vida. E a vida sorria pra ela.

Sinto saudade da Lara. Sinto muita saudade dela. Quando vejo os problemas se agigantando, paro e penso em tudo o que ela me ensinou. Procuro rápido um outro ângulo para enxergar a situação antes que o desespero apareça. Antes de tratar alguém, penso como eu gostaria de ser tratada, lembro da reciprocidade tão peculiar à Lara, lembro da empatia que fazia dela um ser tão iluminado. Lara sempre soube sentir a dor do outro.

Hoje parei em frente ao espelho enquanto fazia minha maquiagem, mirei meus olhos para acertar o traço do lápis e, por um instante, percebi que ela ainda estava lá. Por um instante ainda ví aquele brilho. E ouvi mesmo ela sussurar com aquela voz tão doce “não esqueça que eu sou você. Se não está me vendo, já sabe o que fazer, né? Muda o ângulo!”.


Sorri. Ressurgi. Segui.

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