(by Cinthya)
O valor que
damos às redes sociais despertou em nós algo que enxergo como sendo negativo e
perigoso. A super exposição e a necessidade de buscar aprovação alheia, de
despertar a inveja nos outros, de provar a nossa “felicidade” não tem limites. Vale
tudo para estar na mídia. Vale até mesmo apostar em relações doentes para ter
um status de “relacionamento sério”, como se isso fosse um tipo de certificado
de qualidade que a gente expõe cheio de orgulho.
E percebo
então que o importante não é satisfazer uma necessidade minha, um sonho, um
desejo, uma vontade de construir um relacionamento embasado no companheirismo,
na afinidade, no respeito, no amor. Não, não é isso. O que importa é que as
pessoas vejam que eu tenho alguém, que encontrei um par, que não estou sozinha,
que terei companhia para as selfies. Aliás, minhas selfies agora estão
completas. Sempre sonhei com selfies completas.
Quantas
curtidas? Quantos comentários? Quanta inveja despertarei nas “inimigas”?
Afinal, eu tenho alguém. E ele é o “boy magia” do memento, a “coca-cola mais
gelada do freezer da humaninde” (como diz meu professor de Antropologia), ele é
o “Crush” (ainda dou risada com esse novo termo) que todas sonham ter. Mas ele
é meu.
Então, se
passamos uma hora juntos, dessa uma hora pelo menos 30 minutos são dedicados às
nossas selfies, pois, preciso postar minha felicidade, preciso que as pessoas
vejam que estou bem, que minha vida está ótima, que problemas não me visitam mais.
Penso mesmo que problema é pros fracos, eu vivo é bem.
A academia
não é mais um lugar onde vou praticar exercícios. Não. Isso é coisa do passado.
A academia serve para desfilar minhas malhas caras, meu tênis importado. A
academia também serve para cultivar minhas formas perfeitas, para idolatrar
cada centímetro de massa muscular. E, claro, para fazer selfies. Selfies que
vão provar por A+ B que além de ter um crush eu também tenho um corpão, e uma
malha cara pra caralho. Sou feliz e vou postar mesmo essa felicidade. Quantas
curtidas? Quantos comentários?
A viagem
que fizemos foi perfeita. Durou pouco, mas tudo foi perfeito. Viagem perfeita,
com o par perfeito, no lugar perfeito. NADA deu errado. E, claro, tiramos
muitas selfies para comprovar. Acho legal mostrar que tenho um crush, um corpão
e que ainda viajamos juntos numa viagem MARAVILHOSA. E que venham as curtidas e que venham os comentários.
E nem falei
do trabalho, do orgulho que tenho em ter um emprego dos sonhos. Coisa que muita
gente gostaria, mas poucos conseguem. Então, vou fazer selfies aqui também e
vou postar para todos verem que eu, além de tudo o que já mencionei, também
tenho um emprego que é muito legal. As inimigas piram com o meu sucesso.
Vou levando
as coisas dessa forma e um dia me dou conta de que aquele vazio continua lá,
porque fotos, roupas, corpão e viagens não preenchem os anseios da alma. Mesmo
as quinhentas curtidas e mais de cem comentários não conseguem fazer aquecer o
lugar mais profundo de mim, aquele lugar onde eu vou quando deito a cabeça no
travesseiro.
Daí eu
percebo que tenho vivido uma vida que talvez nem seja minha. Que tudo o que eu
faço, faço para dar satisfação aos outros, para mostrar, para expor, para
angariar curtidas e aprovação alheia. Que não curto o momento, que não relaxo,
que não me permito ser o que eu sou de fato. Estou o tempo todo procurando
provar para os outros que gozo de uma felicidade que, na verdade, não existe. É
uma farsa. É uma ilusão. E isso é
muito perigoso, isso nos torna pessoas artificiais, que levam uma vida que não
é sua, que não se conhecem profundamente, que não criam laços sinceros, que não
enxergam nada além de seu próprio umbigo. Nos tornamos individualistas,
egoístas e com a falsa ideia de sermos perfeitos, numa vida perfeita.
Quando a
realidade bater à nossa porta (e isso vai acontecer) a gente acorda e se
deprime, porque nada do que assumimos como nosso, de fato, é nosso. Por que eu
preciso tanto que os outros vejam a minha vida? Por que eu preciso tanto dessa
exposição? Por que eu preciso das curtidas e comentários? Por que eu tento
sempre provar que estou feliz? Por que eu faço de tudo para viver a vida que vá
agradar aos outros e não a mim?
Um dia estaremos
a sós com nós mesmos e, então, poderemos começar a viver a vida que nos
pertence. Sem se preocupar tanto com o que pensam e com o que falam. Acho que
felicidade começa assim. Começa quando deixamos de buscar aprovação dos outros
e passamos a estreitar nossa relação com a nossa consciência. Assim vamos
percebendo que felicidade não tem ligação com o crush, com o corpão, com a
malha cara... Felicidade é algo mais sutil. Não tem forma, não tem rosto, não
tem preço (e não requer mega exposição, muito menos "curitdas" alheias).