(by
Cinthya)
Fazendo um
trabalho da faculdade, precisei pesquisar de foma muito prazerosa, diga-se de
passagem, alguns amigos filósofos sobre um conceito que, embora tenha se
mostrado atemporal, ainda se faz difícil de ser internalizado ao ponto de ser
incorporado nas práticas nossas de cada dia. Refiro-me à Ética.
Muitos
diriam que o momento é bem oportuno para discutir tal assunto, mas eu
consertaria a frase dizendo que todos os momentos são oportunos para
discutirmos esse assunto. Que não somente a atual novela política brasileira,
não somente o governo ilegítimo que temos, não somente como as coisas se deram,
não somente as eleições para prefeito e suas histórias cabulosas. Não. Não é só
isso.
Sempre que
falamos em Ética, voltamos de imediato o nosso olhar e nosso dedo para o outro.
Já perceberam? Sempre que mencionamos ou apenas pensamos em ética, já nasce em
nós o julgamento da postura de alguém. Já pensamos naquele político (em
primeiro plano), pensamos naquele religioso (em segundo plano), pensamos
naquele traficante (em terceiro plano) e, embora não necessariamente nessa
ordem, sempre pensamos em outrem e nunca em nós mesmos, como se não
estivéssemos sob esse julgamento.
E talvez
seja por isso que, por tantas vezes, nos deparamos com cenas contraditórias
onde uma pessoa que faz “gato” de energia em casa sai nas ruas para chamar o
governo ou determinado partido de corrupto. Uma pessoa que oferece cesta básica
a outra em troca de voto ou favor político
(e inclue-se também quem recebe a cesta básica)não poderia sequer “olhar torto”
para quem usurpa lá no poder maior.
Sabe aquela
vez que estacionamos na vaga pra deficiente? Sabe aquela vez que chegamos no banco
e a fila estava imensa e então descobrimos aquele colega de faculdade que está
prestes a ser atendido e pedimos para ele pagar o nosso boleto? Sabe aquela vez
que nós votamos num candidato por que ele nos ofereceu um emprego? Sabe aquele
troco errado que o caixa do supermercado nos deu a mais e que nós não
devolvemos, pois “não roubei.
Ele que me entregou”? Lembra daquela “roubadinha”
que damos na contramão para ganhar uns minutos de tempo? Sabe todas as vezes
que colamos descaradamente (e outras vezes bem profissionalmente, convenhamos)
nas provas? Sabe quando pagamos para alguém fazer nosso trabalho de faculdade
porque estamos sem tempo pra pesquisar? Sabe aquela vez que a compra feita via
internet veio em duplicidade e nós, por escolha, ficamos com as duas sem nem
tentar devolver? Sabe quando trocamos o santinho do eleitor analfabeto para que
ele vote no nosso candidato? Sabe quando a gente faz uso de bebida alcoólica e
vai dirigir? Sabe aquela pequena “coisinha miudinha” que fazemos para benefício
próprio e que não está condizendente com a moral?
Esses são
alguns dos pequenos exemplos de corrupção que nós cometemos no nosso dia a dia.
São atos que já estão quase que no automático, nem percebemos mais. Já fazemos
como se fosse normal. Mas não é. Mas não são. São atos despidos de moral, assim
sendo, não são éticos. Não ajudam a coletividade a viver bem. Não é difícil percebermos o quanto colocamos
nossos interesses pessoais à frente de nossas ações. E isso é a contra mão da
ética.
Então eu
entendo (e isso é um ponto de vista meu, que fique claro) que se eu me corrompo
nas pequenas coisas é porque são nelas que tenho a chance de me corromper hoje.
Se coloco meus interesses pessoais à frente das minhas decisões, quando escolho
ficar com o troco de R$ 5,00 à mais que o caixa do supermercado me deu (mesmo
sabendo que ele irá tirar do seu bolso para repor aquela valor no final do dia),
o que me levaria acreditar que eu eu não faria o mesmo diante de R$
50.000.000,00 dos cofres públicos?
Se não
somos todos corruptos, somos (ainda) corruptíveis, ainda não aprendemos a pensar na coletividade antes de pensarmos em nós próprios. Então, pra não pegar mal a gente
falar da corrupção alheia sem olhar pra própria postura, como diz aquele ditado
“macaco senta no rabo pra falar do outro”, façamos um exercício de autoanálise.
É gratuito. É trabalhoso, mas traz benefícios incríveis que vão servir para o nosso
bem estar e para o bem estar da coletividade, ou seja, nos transformarão em
seres éticos.
Somos
livres (ou ainda, como dizia Sartre, condenados) para fazer as nossas escolhas
e somos, de certa forma, o resultado delas. Então, prestemos atenção em nós
antes de iniciar o julgamento do outro.
Somos
corruptíveis sim, mas somos também perfectíveis. Eu acredito nisso.
Preste
atenção nas suas escolhas!