sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Seres Humanos Impermeáveis



Tirando a poeira dos pensamentos, depois de um longo período infértil, sem conseguir juntar as palavras, me pus a pensar sobre a vida, sobre o cotidiano, analisar com mais cuidado as minúcias do que me cerca e consegui notar a impermeabilidade sentimental, tanto minha quanto das pessoas que me cercam. A frieza e a indiferença são tantas, que às vezes até me pergunto: onde foi parar aquela romântica e sonhadora que fui um dia? Como diz Adriana Calcanhoto “Eu não moro mais em mim”.
Eu sinto como se estivéssemos envolvidos por uma camada protetora onde nada nos atinge, nada nos toca, nem a dor, sobretudo a dor do próximo, nem o amor, mais ainda o amor ao próximo. É como se nós tivéssemos nos tornado zumbis, alheios ao que acontece à nossa volta, indiferentes à dor e ao amor. As pessoas negam e rejeitam os sentimentos e as sensações e eu, sinceramente, não consigo entender o porquê.
É fácil comprovar tudo isso que estou falando, basta um olhar mais atento ao nosso redor, aos acontecimentos banais do dia a dia. Nas rodas de amigos ninguém conversa mais com ninguém, todos estão mergulhados no universo dos seus smartphones. Até nas mesas de bares e restaurantes. Grupo de pessoas de cabeça baixa, casais separados pela tecnologia, cada um no seu mundo virtual, dando atenção a quem está a quilômetros de distância esquecendo quem está ali, bem na frente. O “bom dia” morre na boca semi aberta, o sorriso não chega a ser concluído, sequer se propaga. Os olhos sempre baixos e indiferentes nos torna cada dia mais distantes do nosso próximo. Sem trocadilhos.
Como nômades, vivemos uma peregrinação em busca da terra prometida, em busca da leveza tão sonhada, do amor protetor e acolhedor tão desejado. Essa busca torna-se cansativa e improdutiva e nos faz andar em círculos, sem sairmos do lugar. Porque queremos, mas não fazemos nossa parte para conseguir. Buscamos, mas não sabemos ao certo o quê e pra quê. No meio dessa procura, percebemos o quão desviados estamos do nosso caminho e como estamos perdidos no labirinto do egoísmo, da indiferença e da amargura.
É triste, na verdade é bem triste, saber que trabalhamos há anos numa empresa, com dezenas de pessoas onde passamos oitenta por cento do nosso tempo, convivendo com elas diariamente e perceber que ao sairmos contaremos nos dedos de uma mão, e ainda nos sobrarão dedos, pessoas que poderemos chamar, verdadeiramente, de amigos, pessoas que traremos para nossas vidas.
Espero que minha tristeza tenha prazo de validade e que esse prazo vença logo. Espero que eu consiga me livrar da amargura e propagar sorrisos. Me despir da couraça que blinda meus sentimentos e transpor as barreiras que me separam das pessoas que amo, ou que um dia amei. Quero deixar um rastro de alegria e sentimentos bons no caminho por onde passar. Ainda que não tenha êxito na minha luta, ainda que não consiga deixar rastros fortes, se conseguir, ao menos, arrancar e dar boas risadas, compartilhar de alguns momentos de carinho verdadeiro, pra mim, já terá valido a pena.

Verônica

Um comentário:

Unknown disse...

Que bom que você voltou a escrever. Veronica, você está expressando o que muitas pessoas sentem ,mas não estão conscientes para enxergar e reagir. Beijo no coração! ❤❤