terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O Poder do Perdão


Se formos procurar na internet ou nos livros, acharemos uma infinidade de histórias sobre o perdão. Li várias. Me emocionei com muitas delas. O que mais me chamou a atenção foi o ponto em comum que encontrei em todas essas histórias: a força de quem perdoou.

O ato de perdoar tem muito pouco de altruísmo e muito de força, bravura e superação. Quem perdoa, descarrega uma bagagem pesadíssima e passa a seguir mais leve, leva uma vida mais saudável. Quem consegue exercer o perdão, de verdade, deixa de ser vítima e passa a ser protagonista da própria história. Poderia citar várias e fazer um texto quilométrico, mas vou contar três histórias de perdão, completamente diferentes, que prenderam demais a minha atenção.

Vi a história da moça, que é famosa e casada com um moço, também famoso, e esse moço foi flagrado numa pulada de cerca, aos beijos com uma anônima numa noitada dessas da vida. A esposa traída ficou calada, sem fazer pronunciamento nenhum até quando achou que deveria. O marido traidor foi a público se desculpar e dizer que eles atravessariam essa fase juntos. A esposa, por sua vez, poderia ter vestido a fantasia de vítima das circunstâncias e ter pousado de coitadinha, afinal, o momento era propício. Mas, para a surpresa de todos, inclusive a minha, ela pediu que os santos e canonizados guardassem suas respectivas pedras porque as pessoas erram. Encerrou o assunto assim, com essa leveza e naturalidade, apesar da humilhação que sofrera. Hoje, seguem tranquilos e aparentemente em paz.

Outra que ficou marcada na minha cabeça, foi a história da mãe de um rapaz de 25 anos, eles tinham uma padaria no interior de São Paulo, e num fatídico dia, ao encerrar mais um expediente, um assaltante invadiu o comércio deles e atirou no rapaz. Justamente naquela semana que tinha tudo pra ser especial. Seria a formatura do filho mais velho de uma mulher que tinha ficado viúva aos 30 anos. Foi a mãe, quem recebeu o diploma do filho morto dias antes da colação de grau. De todos os sonhos e planos de uma nova vida, ficaram apenas a dor e a saudade. Aquela história poderia ser mais uma entre tantas que existem por aí. A diferença é que a mãe perdoou o assassino do filho, ele foi preso, segue preso até hoje, e, além disso, passou a ajudar a família do mal feitor que deixou uma esposa e dois filhos pequenos desamparados. Para esse ato, a mãe justifica apenas que, o ódio não trará seu filho de volta, e as crianças não têm culpa da monstruosidade que o pai cometeu. Eu não tenho palavras para dizer o que acho dessa mãe guerreira.

Em setembro de 2013 um músico, não tão famoso, de uma banda não tão famosa, pôs fim na própria vida. Mas, o que mais choca nessa história é que esse ato ele cometeu quando sua bela esposa – que já havia perdoado uma traição dele, tempos atrás – estava grávida de alguns meses da primeira filha deles. A comoção foi geral, e todos se perguntavam como ele teve coragem de fazer isso com a própria vida e deixar a esposa grávida. O falecido foi acusado de egoísta, covarde, imaturo e muitas outras coisas. No velório do grande amor de sua vida, a esposa limitou-se a dizer: “eu te perdoo, meu amor!” Gente, isso foi lindo! Ela podia ter sentido raiva e ter compartilhado da opinião de todos, mas não. Ela perdoou a atitude do marido e seguiu em frente. Leve e em paz. A bebêzinha deles nasceu e está crescendo num lar saudável e sem a sombra do ressentimento, ou de qualquer tipo de mágoa.
Essas e tantas outras histórias a gente vê por aí sobre o perdão e ao ler-las eu só pude concluir uma coisa: Falta muito para que eu me torne um ser evoluído. Como eu preciso melhorar no quesito de superação. Eu não consigo perdoar, eu não tenho força suficiente para seguir em frente leve e feliz. Um psicanalista da USP afirma que “é importante não confundir perdão com masoquismo. Um perdão barato não é transformador, ao contrário, só aprisiona e mal acostuma.” O problema do perdão é que a vítima nunca se sentirá quite com o agressor. Mas, para viver em paz, só resta a quem sofreu superar o ocorrido. Perdoar não é esquecer, ledo engano de quem pensa assim. Perdoar é seguir em frente sem se deixar abater com o ocorrido, perdoar e não sentir mágoa, ou raiva ou a necessidade de um revide. Perdoar, é ver e deixar a ferida cicatrizar.

Gostaria muito de dizer que sou uma pessoa que consegue perdoar, que sabe virar a página e que sabe descarregar a bagagem da mágoa, mas não sei, não consigo e não supero. Carrego feridas abertas que insistem em não fechar, que ainda doem e latejam. Não posso afirmar que sei perdoar, porque dos inúmeros defeitos que possuo, a hipocrisia não está na lista.

Eu sou rancorosa, eu não esqueço, não perdoo e não consigo seguir em frente. Dos raríssimos desafetos que tenho, só um me invade mais do que eu gostaria. A raiva que sinto me faz mal, a mágoa que carrego é pesada e a tristeza que sinto me toma, ao lembrar-me do ocorrido, minam minhas energias. Queria ser diferente, queria poder perdoar, ainda que não esquecesse, queria poder conviver em paz. Mas, não consigo!

Meu desejo para o ano que se inicia, é que eu consiga evoluir como ser humano. Quero perdoar meu desafeto. Quero seguir em frente sem mágoa, sem rancor, sem raiva. Quero viver a plenitude da paz! Quero usufruir do prazer de uma vida leve, sem sombra do passado. É o que eu desejo a todos vocês que me acompanham e que param pra ler o que eu escrevo. Desejo o encontro com a felicidade plena.
John Lennon dizia que a felicidade vem quando a gente está distraído. Já Charlie Chaplin dizia que cada dia que não tenha alegria é um dia perdido. Não quero perder nenhum dia de 2015 e quero estar distraída o suficiente para esbarrar com a felicidade.

Desejo que o verdadeiro espírito natalino nos cubra e nos renove!


Que o ano que se inicia seja repleto de força e entusiasmo! Que ele seja como um caderno com muitas folhas em branco e que uma linda história seja escrita!

Verônica