quarta-feira, 12 de abril de 2017

Nessa Triste Solidão

Imagem Retirada da Internet
A solidão é associada constante e equivocadamente com algo ruim e recebe uma conotação negativa. Como se fosse um carma, uma praga ou castigo. Eu, particularmente, acho isso um desperdício, posto que muitas coisas boas em minha vida, muitas decisões acertadas, por exemplo, aconteceram depois de momentos decisivos de solidão produtiva e reflexiva.

Rubem Alves, numa crônica publicada no Correio popular em 2002 disse uma coisa fantástica, ele abordou com a maestria que sempre lhe foi peculiar um tema tão delicado e nessa obra ele decretou: “Sua tristeza não vem da solidão, ela vem das fantasias que surgem na solidão.” E ele tem toda razão! Se formos analisar o cerne da questão, veremos que ele está certíssimo. Nós é que a demonizamos.

Na solidão, a tristeza não vem do fato de estarmos sós. Ela deriva do pensamento de que se estivéssemos em tal lugar com tal pessoa estaríamos melhor do que estamos agora. A gente roda, roda, mas sempre esbarra na sombra do “e se...” “e se tivéssemos feito assim e não assado?” “se tivéssemos escolhido aquele caminho e não esse, onde estaríamos agora?” são essas indagações e devaneios que nos torturam.

Imagine a cena: você chega em casa depois de um longo dia de trabalho, mas a sua casa está completamente ás escuras, não tem ninguém esperando. Tudo breu. Tudo silêncio. Você não tem com quem conversar, liga a TV, mas nem presta atenção no que ta passando, o que você quer mesmo é pôr fim ao silêncio.  Daí até a hora de dormir é uma sequência de afazeres automáticos porque no dia seguinte começa tudo de novo e a noite é sempre mais difícil. Você acha isso ruim?

Na verdade, o problema não está no fato de estar só, o problema está no modo como você encara essa situação. O Padre Fábio de Melo em seu livro “Quem me Roubou de mim” fala sobre o sequestro da subjetividade, sobre o cárcere que impomos a nós mesmo em função do outro, e mais ainda, sobre o poder que o outro exerce sobre nós quando assim permitimos. Esse livro é fantástico para que conheçamos a nós mesmos e identifiquemos quais os tipos de pessoas queremos em nossas vidas.

Trazendo experiências desse livro para o texto, é possível fazer associação entre o sequestro da subjetividade e a solidão. Você está só quando foge de si, quando abandona sua personalidade, quando se esvazia de si mesmo e se enche de um personagem criado para satisfazer os anseios da outra pessoa. Você está só quando se anula, quando se isola, quando se recusa a se aceitar. A solidão, ao contrário do que imaginamos, pode ser infinitamente mais ampla.

Diferentemente do que pensamos, é na solidão que encontramos respostas para inúmeras perguntas, apenas estando sozinhos, longe dos risos bobos e das conversas vazias, desfrutando da nossa própria companhia é que poderemos nos conhecer melhor. Longe da paquera, do papo vazio e superficial de uma balada lotada de sábado à noite. Da pegação efêmera e momentânea. São nesses momentos, solitários e reflexivos, que “a ficha cai”.
Existem vários tipos de solidão e para todas elas há sempre um ponto positivo. Basta saber ver. Querer ver. É necessário que tenhamos consciência do que, de fato, o ‘estar só’ representa pra nós. Se você o encara como uma benção ele há de ser, mas se você o vê como maldição não haverá como ser diferente.

Um efeito avassalador é da solidão Espiritual. Respeito e muito quem não acredita na força e no agir de Deus. Mas, não creio na possibilidade de uma vida plena sem a orientação, proteção e amparo Divino. Quando você sente os efeitos da solidão social você liga pra um amigo, vai visitar um parente, vai naquela festinha que acha super chata, mas, como está se sentindo sozinho, vai assim mesmo. E quando a solitude é dentro de você? Quando nada preenche esse vazio? Não importa aonde você vá, não importa o que faça, a angústia continua ali, aquela lacuna irreparável. É a falta de Deus. Acredite!

Existe a solidão acompanhada. Aquela tortura de amar e não ser amado. Aquela angústia de ofertar afeto e receber desprezo, aquele desassossego de não saber onde a pessoa está, mesmo ela estando, fisicamente, ali do seu lado. Quem ama ou já amou alguma vez na vida entende que é a distância que aproxima. É, basicamente, na ausência que a proximidade é maior. Talvez a melhor forma de remediar a situação, se isso ainda for possível, seja o distanciamento.

Existe ainda a dor de ser uma ilha. Estar só em meio a um mar de gente. Saber que mesmo estando cercado de pessoas por todos os lados nenhuma daquelas pessoas ali estão preocupadas com você ou solidárias a sua dor. Ou, podem até estar preocupadas, mas não conseguem te alcançar. Por ser uma ilha, você não é tão acessível.

A beleza da vida reside nos desenhos que se formam dos pequenos fragmentos que se unem conforme as coisas vão mudando. São esses fragmentos que dão cor, forma e sabor a nossa existência. São essas minúcias que fazem nossos dias valerem à pena. Como disse Guimarães Rosa: “Felicidade se acha é em horinhas de descuido.” Nos descuidemos então.


Muitas vezes nossa busca desenfreada por uma companhia que nos livre da solidão, nos impede de ver a beleza que a vida está nos ofertando de forma voluntária e gratuita. Pensemos.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Doenças Mentais - A necessidade de se livrar dos estigmas

Imagem retirada da Internet


Muita gente ainda se assusta ao falar de doença mental, um tabu que precisar ser quebrado, o preconceito precisa ser superado e o problema precisa ser encarado com a naturalidade e a seriedade que merecem, sem medos, neuras ou dissimulações. Os problemas psicológicos precisam ser tratados assim como os reumáticos, os respiratórios e qualquer outro que venha a surgir.

Levantamentos da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que atualmente 33% da população mundial sofrem com algum tipo de transtorno mental. A depressão, por exemplo, entre 2005 e 2016 aumentou 18,4% em todo mundo e o Brasil é o país com maior prevalência em toda a América Latina.

O estudo afirma que 5,8% da população sofrem com depressão, ou seja, 11,5 milhões de brasileiros são acometidos por essa doença. É muita gente sofrendo. E sabem qual é a pior parte disso tudo? A ignorância, a falta de informação e o preconceito que prejudicam ainda mais o que já está muito ruim.

Estamos falando de depressão, mas não esqueçamos a ansiedade, síndrome do pânico, estresse e outros transtornos mais graves que se formos aprofundar a leitura vamos descobrir dados alarmantes. Vocês sabiam que o Brasil é recordista mundial em ansiedade? É, medalha de ouro pra nós. Pena que é nessa categoria ruim. Ainda segundo a OMS 9,3% da população sofre de ansiedade. Um número assombroso de 18,6 milhões de pessoas com esse transtorno. É importante observar que muitas pessoas têm tanto depressão, quanto transtorno de ansiedade. Não pasmem, é mais comum do que a gente imagina.

Vivemos em mundo de imediatismo, não temos vida, temos prazos, tudo é muito atropelado e nossa saúde sempre vai sendo deixada em segundo plano. A correria diária faz com que priorizemos outras coisas e negligenciemos algo de suma importância: a vida.
A saúde pública está falida, li recentemente que existem projetos que pretendem incluir tratamentos psicológicos e acompanhamentos personalizados ao SUS, mas eu duvido muito que isso saia do papel, tendo em vista que as necessidade mais elementares dos cidadãos não estão sendo atendidas. Então, pensando assim, já que não podemos delegar ao estado a responsabilidade de cuidar de nós. Cuidemos nós mesmos.

Há meses atrás, depois de engordar muitos quilos em poucos meses, sentir constantemente uma vontade de infinita de não fazer nada, uma sonolência profunda durante o dia e uma insônia perturbadora durante várias e várias noites consecutivas, além de sofrer com crises de enxaquecas que me tiravam o prumo resolvi procurar ajuda médica. Fui diagnosticada com princípio de depressão e ansiedade.

Com acompanhamento médico e medicação fui vendo as coisas voltarem aos eixos. Não entendi como havia ido parar ali já que eu tinha uma vida ótima. Depressão? Eu nem tinha tempo pra ficar deprimida. Com mil coisas acontecendo em minha vida, como isso era possível? Pois é. Não sei. Mas não perdi tempo tentando entender. Corri atrás mudei alguns hábitos e hoje vejo as mudanças acontecerem gradativamente. E que bom que eu procurei ajuda logo. Minha vida, que nunca perdeu o ritmo de normalidade, está ainda melhor depois que os incômodos cessaram.

Aí podem me perguntar: “você não tem vergonha de dizer para as pessoas que estava com princípio de depressão?” Vergonha eu teria se ignorasse o problema que estava passando e perdesse minha sanidade por isso. Vergonha eu teria se eu deixasse que o estilo frenético de vida que eu adotei tivesse ditado as regras e eu tivesse perdido as rédeas da minha vida.

Gente, nossa saúde é muito frágil e nós, invariavelmente, ignoramos isso até que perdemos. Se você não é adepto de remédios de farmácia e acompanhamento médico, parta pro tratamento homeopático, busque os tratamentos alternativos. A prática de esportes e o reencontro com a fé, principalmente, são de suma importância nessa ajuda.
Mas, se você percebeu, em você, ou em alguém ao seu redor, os sintomas de algumas dessas doenças, não ignore. Não deixe para amanhã. Não prolongue o sofrimento. Não feche os olhos.


Já somos obrigados a dissimular tanta coisa: interesse, amor, raiva, compaixão... Dissimular um problema de saúde já é demais, não é não? Como eu sou do contra, não dissimulo mais nada. Mostro mesmo!


Verônica Monteiro