segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quando O Coração Chora


(by Cinthya)


Durante e minha gestação, era normal eu ter crises e mais crises de choro. Um choro que não sei bem de onde vinha, mas vinha. E vinha com força total. Eu chorava copiosamente, desesperadamente, sentidamente, profundamente. Muitas dessas crises (ou quase todas) aconteciam no meu trabalho, durante o expediente, e uma amiga que trabalhava comigo era sempre quem vinha me socorrer. Ela não sabia o que falar e chorava junto comigo. Ficávamos as duas ali a chorar. Era o jeito que ela tinha de dizer que estava ao meu lado, acontecesse o que acontecesse.

Também foi ela que me consolou quando uma médica (por telefone) ao saber o resultado de um exame meu disse-me que eu provavelmente perderia o meu filho. Eu quase não conseguia levantar da cadeira, mas a minha amiga me ajudou e foi comigo a pé, durante o trajeto que fazíamos todos os dias até o ponto de ônibus, tentando me acalmar, tentando conter meu choro, tentando cassar o diploma da tal médica, enfim.

Essa minha amiga foi quem saciou um desejo que eu tive, enquanto grávida, de comer pizza de calabresa. Ela comprou a pizza e preparou uma linda mesa na casa dela para me receber. Eu sabia que ela estava super apertada financeiramente e que tirara aquele dinheiro com o qual comprara a pizza de alguma conta que precisava pagar. Mas ela fez isso pra me ver feliz.

Quando ela casou eu não pude ir, pois meu filho tinha poucos meses de vida e a cerimônia aconteceu em outra cidade. Fiquei imensamente feliz com a realização desse sonho que ela tinha, que era o de casar. Estávamos as duas com nossos sonhos, radiantemente, realizados.

O tempo passou e ela, sempre louca por crianças, enfim engravidou. E eu chorei de alegria quando recebi a notícia. E espalhei pelos quatro cantos a novidade! Todos os amigos ficaram felizes com a boa nova! Todos ligando para parabenizá-la.

Nos últimos exames foi detectado um problema no coração do bebê. Acreditamos que tudo ia se resolver, que tudo não passava de um susto. Que ele seria submetido a cirurgia e ficaria bem. E cresceria e daria aos pais a satisfação de ter um filho, de acompanhar um filho.

Muitas vezes de nada adianta os nossos planos, a nossa vontade. Algumas vezes a vida toma o rumo que quer tomar, sem se preocupar com o que queremos que aconteça. E minha amiga viu o seu filho partir, ali, na sua frente, depois de lutar pela vida com uma garra que poucos adultos têm. Ela sequer pôde segurá-lo nos braços, sequer pôde levá-lo ao seio. Só pôde vê-lo ali, na UTI, lutando para ficar.

E como é doído ver uma pessoa amada sofrer como ela está sofrendo. E como dilacerou meu coração preparar a mesa para que pudéssemos colocar o caixão com o corpinho dele. E como arrasou comigo ver a minha amiga e o marido, sentados ao lado do pequeno corpo, contornando cada traço delicado do rostinho dele. 

Eu não pude fazer nada. Nada que eu fizesse aliviaria a dor que ela sentia, que ela sente. Mas eu segurei-lhe a mão. Eu não pude arrancar a dor do coração dela. Não tive como reescrever esse capítulo da história. Não consegui dar um outro rumo às coisas. Nada disso eu consegui fazer. E fiquei ali a chorar a dor que a consumia. Agarrada em sua mão, ao seu lado.

O que eu posso fazer é estar com ela, aconteça o que acontecer.

Nós demos muitas gargalhadas juntas e hoje choramos juntas muitas lágrimas. E vêm e vão-se as lágrimas e as gargalhadas, mas o amor está sempre firme entre a gente. O luto dela é meu luto. A dor dela é minha dor.

Amizade é isso. Amor é isso.

PS: Nem sei se esse texto terá algum sentido pra quem o ler... Mas eu não conseguiria escrever sobre outra coisa... Porque eu não consigo sentir outra coisa.

Um comentário:

Suzana Viena disse...

Cinthya, gosto muito dos seus textos, me animam. Falam muito de sua partcicipação no grande debate que haverá durante o evento '' JOAQUIM, TEREZA E O JUMENTO '', do professor Otoniel Gondim. Gostarei de vê-las debatenbdo. Admiro as duas e vão alçar vôos. Até lá. Dia 14 de junho. restaurante Devassa.