Hoje, deixo com vocês uma história linda, comovente e real. Quem nos presenteou com ela foi nosso querido leitor Quim. Obrigada, Quim, por essa história linda e mais uma colaboração maravilhosa.
Verônica
( Historias que a vida escreve...)
Helena, que nasceu num domingo, 13 de agosto, dia dos Pais, tinha 16 anos quando conheceu José, a esta altura, com 18 anos; estavam numa festa de aniversário, se viram, começaram a conversar, por fim, a conversa virou namoro.
José era um rapaz simples, boa pessoa, semi analfabeto, pedreiro, honesto e muito trabalhador, mas, tinha também seu lado negativo, a bebida.
Helena por sua vez, ainda estudava, estava no ultimo ano do primário, não tinha escolhido ainda qual profissão seguiria; de inicio seus pais foram contra o namoro dela com José, por considerarem que ela ainda era muito criança para namorar, mas, acabaram cedendo. É aquela situação, onde os pais ficam sem ação, de mãos atadas diante da teimosia dos filhos, pois sabem que, quanto mais interferem, pior fica e para não piorar, deixam as coisas correrem, vigiando de longe.
Quase dois meses após o inicio do namoro, José, demonstrando suas boas intenções, comprou um terreno, seu objetivo era o de fazer a sua casa e se casar com Helena, mas, seu sonho não durou muito, um desentendimento entre ambos terminou com o namoro, indo cada um para seu lado viver a própria vida.
Com a saída de José da vida de Helena, abriu-se espaço para chegar João, 4 anos mais velho que ela e que, a exemplo de José, também era semi analfabeto, pedreiro, bebia, só que, ao contrario de José, que era trabalhador, João não era nada amigo do trabalho,vivia de bicos,sendo facilmente encontrado pelos botecos do bairro. Mais uma vez, preocupados, os pais de Helena se postaram contra o namoro dela, desta vez com João; uma oposição intensa, acirrada, mas, de nada valeu, pois todos seus esforços foram em vão e contrariando a vontade dos os pais, Helena levou o namoro em frente.
Pouco, ou nenhum efeito tinham os conselhos, as pregações, os avisos, os alertas, os exemplos, a realidade claramente mostrada e demonstrada por aqueles pais preocupados, que, acima de tudo, queriam um bom futuro para a filha, futuro este distante, incerto, obscuro, com quase nenhuma perspectiva, em razão do namoro dela com João, que não queria nada com nada e vivia cheirando bebida.
O tempo foi passando e para o desespero de seus pais, o namoro de Helena com João não deslanchava para uma situação mais segura, mais concreta, mais promissora, sequer haviam perspectivas para um noivado, ainda mais, pelo fato de João sobreviver apenas de bicos, sem trabalho fixo. Namoravam e pronto, sem se preocuparem com mais nada, o resto que se danasse!
Namoros assim, sem assumirem responsabilidades, tendem só a piorar ainda mais as coisas e foi o que ocorreu com o namoro de Helena e João.
Ignorando todos os alertas de seus pais, Helena, insensata, sem pensar nas consequências, avançou um passo além do devido e quando seus pais menos esperavam,apareceu gravida, o que os chocou profundamente.
Diante do fato consumado, o pai de Helena, chateado, decepcionado, mas, sereno, pragmático e objetivo, traçou uma diretriz para agir, afinal, a criança a caminho, virasse por onde virasse, era seu neto, brigar com a filha, armar escândalos, rejeitar o neto, dar um tiro na cabeça de João, não conduziriam a nada, não minimizaria coisa alguma neste fato já estabelecido e consumado, sendo assim, assumiu uma responsabilidade que caberia ao seu “compulsório genro ” assumir.
Sua primeira medida foi afastar para longe o indesejado genro, para poder cuidar melhor da filha e do neto, sem interferência de ninguém, principalmente de quem tinha sido macho para fazer e não tinha sido homem para assumir; a presença por perto, do pai de seu neto, o incomodava e por todos os meios ao seu alcance, impediu que Helena se casasse com João, argumentado que, do neto e da filha ele cuidaria, mas, não desejava ninguém mais a tira-colo fazendo “pique-nique” em sua sombra.
Se por um lado, o Pai de Helena se adaptou de pronto à nova e incômoda situação da filha gravida e solteira, por sua vez, a Mãe de Helena não a perdoou pelo passo em falso e sentindo-se traída, partiu para as agressões verbais contra a mesma e aí o clima entre as duas, que já não era dos melhores, em razão do namoro não aprovado, azedou de vez. Discutiam constante e abertamente, nem parecia serem mãe e filha, tal era a gravidade das discussões, que aconteciam a qualquer hora, todos os dias, um verdadeiro inferno entre elas...
Meses depois, sob grave ameaça de eclâmpsia, em razão de Helena ser hipertensa , através de uma cesárea , o filho de Helena veio ao mundo,um menino,forte,chorão e saudável.
Mas,contrariando o Pai ,que não queria,de modo algum, que João fosse avisado quando ela fosse para a Maternidade, que só fosse avisado depois, Helena, sem que o pai soubesse, ligou escondido para João minutos antes dela sair para o Hospital.
Horas depois, João ligou para o Hospital, coincidindo justamente com o momento em que Helena deixava a Sala de Parto, o que deu causa a um grave incidente entre pai e filha.
No corredor, o telefone tocou, a ligação era para Helena, a enfermeira que atendeu o entregou a seu Pai, que não permitiu que a mesma atendesse, visto ela estar sentindo dores e ao mesmo tempo sendo levada para o quarto para ser acomodada num leito. Ao atender, o pai de Helena teve uma desagradável surpresa, foi quando percebeu que era João querendo e insistindo em falar com Helena que acabara de dar a Luz.
Irritado, o pai de Helena se perguntou: Como ele, João, sabia sobre Helena no Hospital, se, como imaginava, até então, ninguém o avisara? Seguiu-se uma rápida e ríspida discussão entre ambos, que terminou com ambos batendo o telefone, discussão esta ouvida por Helena, já acomodada no leito no quarto próximo dali.
Logo após atender ao telefone, nervoso, frustrado, sentindo se traído pela filha, o Pai de Helena se dirigiu até o quanto onde estava a mesma e, apesar de emocionalmente abalado, queria dar um beijo e um abraço nela para depois ir até o berçário ver o seu primeiro neto; do incidente com João trataria depois.
Mas, o que veio a seguir, ao entrar no quarto onde estava a filha, foi para aquele pai, muito pior que um furacão, pois no leito hospitalar, Helena com dores, nervosa e contrariada com a atitude do Pai que impedira dela falar com João, não esperou que o pai se aproximasse do leito onde ela estava e aos gritos, num ataque de histerismo, o expulsou intempestivamente do quarto, diante da enfermeira atônita, que nada estava entendendo sobre o que presenciava.
Helena não aceitava e não perdoava o fato do pai te-la impedido de conversar com João, pai de seu filho.
Expulso pela filha, no exato momento que poderia ser de muita alegria e comemoração, momento da chegada do seu primeiro neto e também do desfecho vitorioso de um plano bem sucedido, para dar à sua filha todo o apoio moral, financeiro, psicológico que ela necessitara para superar os momentos mais agudos e desta sua gravidez, extemporânea, inoportuna e de alto risco, pois Helena era hipertensa, aquele pai deixou o hospital, cabisbaixo, derrotado, magoado e atordoado pelo que lhe acabara de lhe acontecer se sentia apunhalado pelas costas pela filha a quem ele amava e por quem tanto fizera apesar de tudo. A obscuridade da noite que já tinha chegado, ocultava as lagrimas que escorriam, abundantes, pelo seu rosto já marcado pelo tempo...
Mas, não existe um cicatrizante melhor e mais eficiente que o tempo, tanto para as feridas do corpo e como para as feridas da alma, e aquele pai, agora também avô, foi conseguindo, pouco a pouco, superar aquele episodio triste e amargo ocorrido entre ele e a sua filha Helena, que se mostrara injusta e ingrata para com ele, que nunca lhe abandonara em momento algum, enfrentando até as ameaças da Mãe, inconformada com a gravidez indesejada e indesejável da filha e assim, a relação pai e filha se normalizou após um curto período de silencio entre ambos... Coração de pai, também é mole!
Quanto a João, nem mesmo com as responsabilidades de Pai sobre as suas costas se emendou; continuava como sempre, vivendo como sempre, de bicos em bicos, de bar em bar, tomando suas cervejas, sem dar sequer uma lata de leite para o filho que a esta altura era bancado totalmente pelos avós maternos.
O nascimento do filho de Helena fez com que ela e sua Mãe, voltassem a conversar numa boa, como Mãe e filha, afinal, qual é a avó que não quer embalar seu neto ?
O clima entre elas não só melhorou como também passaram, ambas, a se revezarem nos cuidados com a criança.
Tempos depois, alguns anos, a Mãe de Helena, faleceu vitimada por um Câncer de Pâncreas, após um curto período de intenso sofrimento.
O tempo, agora medido em anos, foi passando e o relacionamento, esporádico, entre Helena e João foi se deteriorando mais e mais ficando cada vez mais conturbado; não raro, ela era agredida verbalmente por ele, o que acabou culminando numa uma separação definitiva entre ambos, o que aconteceu após uma agressão física mútua.
O filho de Helena já estava com 16 anos, quando o mesmo, em razão de uma infecção de garganta mal curada, foi acometido por uma osteomielite infecciosa, o que lhe custou um pedaço do fêmur após duas cirurgias de grande porte.
Helena quando criança, também tivera um problema ósseo muito serio, atingindo ambas as pernas, o que exigiu três extensas cirurgias, uma na perna esquerda, duas na perna direita para corrigir o problema que terminou por deixar sequelas.
Após um longo período de relativa paz, longe de João e só cuidando de si e do filho, pois a esta altura seu pai, mais vivo do que nunca, se casara novamente indo morar bem distante deles, vamos encontrar Helena fazendo compras num Supermercado, foi quando encontrou, também fazendo compras, uma das irmãs de José, seu ex namorado, que também tinha se casado, com uma ex colega de escola, foi aí que Helena ficou sabendo sobre José, do qual de há muito não tinha noticias.
Soube através da irmã, que, em razão da bebida, José tinha se separado da esposa, o que o levou a mergulhar ainda mais no vicio, lhe trazendo como consequência uma Cirrose Hepática; em razão da doença, José não podia mais trabalhar, precisando de ajuda, era cuidado pelas irmãs que se revezavam.
Sem pensar duas vezes, Helena foi visitar José em sua casa, foi um reencontro emocionante para ele, afinal, como poderia não ser, se Helena era o amor de sua vida? Ele morava na casa que construíra, a qual ele tinha planejado construir quando ainda namorava com Helena.
Sem compromissos com ninguém, e com José na mesma situação, Helena decidiu e tomou para si a tarefa de cuidar dele, a essa altura já passando por períodos onde ficava acamado, liberando suas irmãs, que mesmo aliviadas destas tarefas, permaneciam colaborando.
A situação de José era grave, a sua piora exigiu sua internação.
Hospitalizado, José recebia diariamente a visita de Helena, que passava com ele todo o tempo que podia, por fim acabou se tornando a única visita que ele recebia, pois até mesmo as suas irmãs, sem razões aparentes, deixaram de visita-lo.
Dia a dia, o quadro clinico de José piorava ainda mais, e piorou a tal ponto, que foi transferido para a UTI, onde Helena continuava o visitando todos os dias, como fazia quando ele estava no quarto.
Naqueles momentos derradeiros para José, Helena era única pessoa que se fazia presente, era a única pessoa que o visitava diariamente, impedindo que ele ficasse e se sentisse só e abandonado; sua ex esposa, nunca o visitou, nem mesmo suas irmãs, depois que ele foi transferido para a UTI.
Na UTI, José entrou em coma; fechando os olhos, silenciou, o que interrompeu a comunicação entre ele e Helena. Conversando com um médico que cuidava dele, Helena ficou sabendo que o fim de José estava próximo, o que deixou arrasada.
Era uma segunda feira, céu muito azul e limpo, um sol radiante, quando Helena, como houvera feito diariamente desde quando José fora hospitalizado, foi visita-lo. No hospital, aguardou pacientemente até receber a autorização para entrar na UTI, e rever José, que no leito, permanecia imóvel, olhos fechados, em silêncio, só se ouviam os ruídos do equipamento ligado ela para monitora-lo. Como sempre fazia, Helena se aproximou do leito, passou a mão pelos cabelos já um tanto grisalhos de José e começou a conversar com ele, mesmo sabendo do fato dele estar inconsciente, pois para ela, era como se não estivesse.
De repente, enquanto Helena falava, José abriu seus olhos, era a primeira vez que o fazia após ter entrado em coma; Helena, emocionada, continuou falando com ele, tentando chamá-lo para a realidade, pois ela tinha a impressão que ele a ouvia, que parecia estar entendendo o que ela dizia, mas, imóvel, ele não respondia, sequer, com algum outro, pequeno, ou quase imperceptível movimento.
Naquele instante, José olhava fixamente para Helena, parecia reconhece-la, saber que ela estava ali presente, mas, alguns segundos depois, lentamente, seus olhos foram se fechando, desta vez, para para todo o sempre.
Helena foi a ultima pessoa que José “viu” antes da partida, foi a única e ultima pessoa que esteve com ele até seus instantes finais. A esta altura, dois meses já tinham se passado deste o reencontro, tudo fez crer, que coube a ela, Helena, a missão de cuidar dos últimos momentos de vida daquele que fora seu primeiro namorado e daquele, para quem, Helena fora o amor de sua vida.
Ficou marcada a sensação, de que Jose esperara pela chegada de Helena, para vê-la pela ultima vez antes de partir; jamais se saberá, se ele a reconheceu naqueles breves e derradeiros momentos, para poder levar consigo e para sempre a imagem de seu rosto, o rosto da mulher amada.
Já com a idade de 40 anos, Helena conheceu Aparecido, uma pessoa simples, boa praça, trabalhava como vigia numa Cerâmica, também bebia (Triste sorte de Helena com os amores de sua vida) tinha muitos problemas com a de saúde. Após um breve período de namoro e reconhecimento, passaram a viver juntos .
Aparecido era viúvo, tinha dois filhos que não moravam com ele. Diante da saúde abalada do seu mais novo companheiro, Helena, para não perder o costume, arregaçou as mangas e começou a cuidar dele. Pegava em seu pé, o obrigava e ia com ele a médicos, fazer exames, tomar remédios. Seu esfôrço foi recompensado, pois com a dedicação dela a saúde de Aparecido melhorou, ele se recuperou, nem parecia ter estado tão doente. Foi ai, quando o pai dele, sogro dela, adoeceu. Como de habito la foi Helena cuidar do sogro, assim o fez com dedicação, até ele falecer poucos meses depois. O cuidado com o sogro trouxe para ela, todo o carinho, consideração e repeito da família de Aparecido, família da qual, ela era a mais nova integrante .
Ao lado de Aparecido, Helena estava feliz, viveu seus bons momentos matrimoniais, os melhores de toda a sua vida, ambos se gostavam, se respeitavam, conviviam em harmonia, sem problemas outros, salvo os rotineiros do dia a dia, que sempre se fazem presentes entre um casal...
Meu relato sobre Helena,poderia se encerrar por aqui, mas, a vida sempre nos reserva surpresas, nem sempre agradáveis,especialmente, quando tudo parece estar bem conosco e em nossa existência...
Helena começara a trabalhar numa multinacional Norte-americana, a qual, além de um bom salario, também pagava a seus funcionários um ótimo plano de saúde, o que era uma mão na roda para ela e seu filho...
Certo dia, ao se levantar para ir trabalhar, Helena sentiu um formigamento nós pés, imaginou tratar-se de algo banal, sem importância, pois logo parou. Mas, no dia seguinte sentiu, além do mesmo formigamento, as suas pernas doerem, mas, como já havia feito cirurgias em ambas, imaginou tratar-se de mais um episódio comum, proporcionado por estas dores corriqueiras, aquelas dorzinhas chatas, que sempre aparecem para quem já fez cirurgias como ela, provocadas pelas mudanças do tempo.
Mas, nos dias subsequentes a situação de Helena começou a se agravar e a preocupa-la; Helena então foi ao medico, que após examina-la e fazer algumas perguntas, pediu uma Radiografia da coluna.
Diante do resultado desta Radiografia da coluna, o médico sem fazer comentários, solicitou uma Ressonância. O resultado da ressonância indicou a presença de um tumor, próximo à bacia, tumor este que, pelo tamanho, já pressionava os nervos na coluna, daí os problemas com as pernas.
Foi então, pedida uma biópsia, o resultado da biópsia foi devastador para Helena: Câncer! E o que era ainda pior, o câncer era uma metástase, que pelo exame mais acurado de suas células, revelou que o Tumor primário estava na Tireoide. Chocada, atordoada, sem teto e sem chão, Helena não se deixou nocautear; lembrando do triste fim de sua mãe, achou por bem, não se deixar abater e ir à luta para enfrentar este monstro traiçoeiro, covarde e assassino que a atingira. Ali mesmo, diante do medico, fez um pacto com a vida, lutaria por ela sem tréguas e a todo custo.
Alguns meses antes, Helena fizera uma biópsia de alguns nódulos detectados em sua tireoide, mas, esta biópsia nada revelou de importante. Mas uma duvida pairou sobre a cabeça de Helena: Este câncer tireoidiano, agora descoberto indiretamente na sua coluna, bem distante de sua tireoide da qual ele se originou, teria passado despercebido pelo patologista que fez a biópsia tireoidiana? Quem teria esta resposta?
Reexaminada a tireoide, desta vez se descobriu o câncer, já em estagio bem avançado, quase inoperável, o que explicava a metástase na coluna, que o mesmo estava escondido, num local quase inacessível. Como foi possível um tumor daquele tamanho, passar despercebido? Pois é, acontece que passou!...
Começou aí a corrida de Helena contra o tempo e pela vida, foi aí então, que Aparecido se revelou para que veio e porque veio para junto dela
O sofrimento de Helena começou com uma cirurgia na tireoide, depois, aplicações de Iôdo radioativo. A seguir veio a cirurgia na Coluna, seria para retirar o tumor nela alojado, mas, não foi possível, o câncer tinha atingido também os ossos. Após as cirurgias começaram as tão temidas dores, terríveis dores, obrigando, para alivia-las, a aplicação de altas doses de Morfina.
Apesar de todo o sofrimento que a doença lhe impunha, reação de Helena após as cirurgias surpreendia os médicos, para os quais, o tempo de sobrevida e as chances de recuperação eram muito poucos e remotos, mas, indiferente a isto, Helena confiante em suas crenças, não se deixava abater, ia em frente, nunca deixando de brincar, de sorrir.
Mais uma cirurgia, a seguir outra, mais outra, atingindo um total de 6, mesmo assim, Helena não se entregou.
Num grande hospital de Clinicas, Helena passou a ser uma referência, conhecida pela simpatia, bom humor, alto astral, estimada por médicos, pacientes e enfermeiras, um belo exemplo para todos.
Se locomovendo em cadeira de rodas, empurrada e guiada por Aparecido, ela visitava os demais pacientes, levando a sua alegria, garimpada entre suas terríveis dores, causando espanto e admiração no corpo clinico que cuidavam dela neste hospital.
Quem conhece um Hospital Oncológico, sabe como é o cheiro da morte e sabe bem como é um Circo de Horrores na vida Real.
Um dos médicos que cuidavam de Helena, durante uma uma junta médica que discutia o caso dela, disse a ela: "Dona Helena, nós não acreditamos em Milagres, mas, também não temos explicações para o caso da Senhora!"
Mas, implacável, a doença de Helena sem se deter e sem que se conseguisse detê-la, seguia seu inexorável caminho de morte e destruição, em seu avanço macabro, alcançou o seu pulmão, cérebro, fígado e pâncreas, o que a levou a um estado semi vegetativo. Não mais se movia, alheia ao ambiente não mais se comunicava com ninguém, não mais se alimentava por si mesma. Aparecido ao seu lado,se desdobrando ao máximo, passou a ser tudo para ela, transformada pela doença num bebê adulto e indefeso.
Mesmo neste estado, desenganada, sem mais o que pudesse ser feito para ela e por ela, Aparecido a levava ao Hospital, onde era examinada, medicada, hidratada, recebendo soro e vitaminas em razão da sua fraqueza pela falta de alimentação adequada.
Mas foi numa destas visitas ao hospital, que a medica que cuidava do caso dela, resolveu testar nela um medicamento usado contra o Câncer de fígado, era a tentativa derradeira, uma vez que não havia nada mais a ser feito. Deu a Aparecido uma caixa deste medicamento, com as instruções de como administra-lo à Helena: uma dificuldade que ele teve de superar com muita habilidade, paciência, triturando cada comprimido ao extremo e o colocando-o em pequenas porções na boca de Helena, que mesmo alienada da realidade, aceitava e o engolia.
Era aflitiva, penosa e dolorosa a situação de Helena, era pungente a dedicação e a paciência de Aparecido nos cuidados para com ela.
Durante três dias ele ministrou o medicamento a ela, superando todas as dificuldades inerentes. No terceiro dia, a inesperada surpresa: Ao adentrar ao quarto para verificar como ela estava, ele a encontrou sentada na cama, tentando se comunicar. O susto foi grande, a inesperada melhora de Helena surpreendeu a todos, até mesmo à Medica que deu o medicamento para ela, um milagres a olhos visto.
A partir daí, as melhoras no estado geral de Helena foram acontecendo rapidamente e pela altura do quinto dia após a primeira administração do medicamento, Helena já falava, já se alimentava sem ajuda e por volta da primeira semana, já conseguia se manter em pé, pouco a pouco, se apoiando já se locomovia até a Cadeira de rodas.
Mas, o medicamento extremamente caro, só dava para 15 dias, como compra-lo, se o preço de cada caixa custava o equivalente a 4 anos de trabalho de um assalariado? Ela precisava de duas caixas mensais, equivalentes a 8 anos de trabalho...
O plano de saúde dela, Bradesco, se recusou a fornecer este medicamento que lhe trazia a sobrevida; a médica conseguira mais duas caixas, mas, não era o bastante, ela precisava de mais, muito mais.
Cancelando o Plano de Saúde, ela se habilitou a entrar para o programa do SUS que fornece os medicamentos de alto custo e este passou a lhe fornecer este medicamento, 2 caixas mensais, o que contribuiu para esta sobrevida.
Mas, a vida não é feita só de coisas ruins, em meio a resultados de exames nada animadores, o filho de Helena lhe trouxe uma noticia que se tornou uma benção para ela, ou seja: Ela se tornaria avó! Esta noticia trouxe uma nova e imensurável motivação para Helena viver e sobreviver, pois preocupada com o neto a caminho, Helena contornou as dores, as limitações, os traumas, se superando fazendo questão de acompanhar a nora, mesmo em cadeira de rodas, sempre empurrada e guiada por seu fiel Guardião Aparecido, quando esta sai para comprar as peças para o enxoval do bebê. Da palpites, da conselhos, opiniões, deixando claro a todos, o quanto deseja cuidar e embalar este neto, o mais novo amor de sua vida...
Após 6 cirurgias, aplicações de Iôdo Radioativo, doses maciças de Morfina contra as dores, feridas pelo corpo trazidas pelo medicamento que toma, diabética, em cadeira de rodas, Helena sobrevive e vive em toda a plenitude, dentro dos limites que lhe são possíveis, o seu dia a dia, sem pensar se haverá o amanhã, um amanhã que no fundo ela deseja intensamente poder alcançar, para conhecer, ver o rosto do seu neto, a sua mais nova razão para viver.
Mesmo o avanço implacável e inexorável da doença, não tem forças e nem poderes para abala-la, que mesmo imersa, por vezes, em lagrimas provocadas pelas dores, nunca deixou de sorrir, de se preocupar com as dores de outras pessoas ao seu redor.
Como uma fera ferida, Helena luta , se imaginando trocando fraldas em seu neto. Ao seu lado, o incansável Aparecido, na sua simplicidade monástica, contribui a seu modo, com o que ele tem e não tem, para que ela sustente e alimente este sonho, o qual lhe trouxe mais forças para lutar e vencer as batalhas diárias até chegar o tão esperado dia para ver seu neto. Helena tem consciência que, para vencer esta cruenta guerra, só por um milagre, mas, acontece que, Helena acredita em milagres...
Não se sabe até quando Helena resistira a este inimigo impiedoso, mas, o seu exemplo de luta, de amor à vida, emociona e cativa a todos quantos a conhecem.
Quando retorna ao Hospital para as suas consultas e exames, Helena não deixa de visitar os demais pacientes, companheiros de jornada, estimulando-os a não desistirem da luta, a não se entregarem de modo algum e que, se tiverem de cair, que caiam em pé e com a cabeça erguida, encarando nos olhos o covarde, traiçoeiro e implacável inimigo que esta os colocando por terra...
4 comentários:
Emocionante!
Nossa que linda história!!!
Que AMOR À vida!!!
Realmente é uma lição de vida!!
Linda mesmo
Ola Amigas !...
Mais uma vez:Muito obrigado! Pela gentileza de voces,publicando algo que eu escrevi,na verdade,eu apenas copiei,pois foi a Vida a autora desta historia.Valeu amigas,continuarei colaborando e com o maior prazer !...
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