No mês do Centenário do Gonzagão nada mais justo que todas as atenções fossem voltadas para a sua obra. Pois bem, no último sábado assistindo o Canal Viva, onde o Som Brasil fazia uma homenagem ao Rei do Baião, eu ouvi uma música linda e eu me lembro que não gostava dessa música quando era pequena, na verdade, quando criança eu não gostava muito de Luiz Gonzaga, confesso! Só quando tive contato mais profundo com a obra dele é que pude reconhecer a grandeza de suas letras. Voltando ao programa Som Brasil: uma banda (que não me recordo o nome) cantou essa música dando uma roupagem diferente. e acentuando ainda mais o sofrimento dos seus versos. Bacana mesmo!
Eu não gostava da versão original porque achava muito triste e melancólica, a cadência dela era voltada pro sofrimento e quando criança a gente acha que a vida é uma festa e tudo é diversão. A música, conta a história do Assum Preto, um pássaro típico aqui do nordeste que tem um canto bonito, triste porém bonito. Reza a lenda que quanto mais triste está o Assum Preto, mais bonito é o seu cantar.
Vendo isso, não pude deixar de comparar a realidade do pássaro com a nossa realidade. Alguém uma vez disse que "é no caos que a gente produz o nosso melhor" e não deixa de ser verdade. Quando estamos tristes é que escrevemos as coisas mais bonitas. O compositor compõe suas melhores canções em momentos de tristeza. Vide Gonzaguinha que compôs uma de suas melhores músicas "Sangrando" quando se separou de Ângela e se hospedou na casa dos amigos Ivone Kassu e Arthur Laranjeiras. Foi curtindo a dor do vazio que ele extraiu de si essas frases lindas. Aliás, a trajetória de Gonzaguinha foi toda muito complicada, ele teve uma história de vida muito triste, permeada de sombras e dúvidas e eu acredito que seja por esse motivo que suas canções são tão carregadas de emoção, sentimentos intensos represados que só eram liberados assim, em forma de música, já que ele era tão reservado e de falar muito pouco.
Aprofundando ainda mais a realidade, Luiz Gonzaga diz em sua música que por ignorância ou maldade, furaram os olhos do pobre pássaro pra ele cantar melhor. Era preferível que ele estivesse preso, porque antes a sina de uma gaiola do que não poder ver mais o sol. Luiz Gonzaga também viveu em uma gaiola. A sina dele era aturar Helena e seu ciúmes, aliás, ciúmes, possessividade, controle e mau humor. Não deixava de ser uma gaiola. Pelo menos eu acho. Então, pra fugir das sombras dos problemas de casa ele se entregava ao que sabia fazer de melhor, tocar, cantar e alegrar as pessoa pelo Brasil a fora. Luiz Gonzaga foi um autor da própria história, foi o senhor do seu destino e honrou e sustentou todas as escolhas que fez. Fez escolhas erradas e pagou por isso. Foi um "cabra macho sim senhor" Não é atoa que é tão querido e lembrado.
As vezes nós também fazemos escolha erradas e nos trancamos em gaiolas. Nos prendemos por vontade própria, ou por falta de vontade de lutar por aquilo que desejamos. O comodismo, a ausência de perspectiva, o conformismo e a auto-degradação também são gaiolas, e ao contrário do caos estabelecido por fatores externos, como no caso do Assum Preto que teve os olhos furados, o caos imposto, ou provocado por nós mesmos não nos levam a nada. Nem nos tornam melhores. Vale a reflexão.
A música é linda! É passiva de várias interpretações diferentes e com certeza poderemos enxergar coisas lindas se olharmos bem. Abaixo segue letra e vídeo.
Viva a Luiz Gonzaga e viva a nossa capacidade de absorver lições nas mensagens implícitas.
Verônica
Assum Preto
Luíz Gonzaga
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.
Ps: Tentei colocar uma versão original, cantada pelo mestre Lula, mas não achei. Achei a versão com a banda que falei no começo do texto e que foi reprisada no Som Brasil.
3 comentários:
Oi Vel!!!!
Lindo o seu texto!!!!
Emocionante, de verdade.
Beijos
Selma
Quer conhecer o Nordeste?
Conheça a obra de Luiz Gonzaga!
A-M-O !
Cinthya
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