sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"A Última Crônica"


(Por Fernando Sabino)

"A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu queria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

"Nasci homem, morro menino".

Fernando Sabino

Essa Crônica foi publicada no livro "A Companheira de viagem", eu a encontrei no Blog Hora do Recreio (http://ribeirobr.blogspot.com/2009/04/ultima-cronica-fernando-sabino.html). Foi um presente tão lindo para a minha alma ver que outras pessoas enxergam também a riqueza imensa que existe nas coisas tão simples. Emocionei-me ao ler. Me pus no lugar de cada uma das personagens, inlcusive do autor. E suguei toda vida que está despejada nessas palavras.

Eu não gosto muito de postar coisas que não são de minha autoria, mas esse é um caso especial, porque essa crônica diz exatamente tudo o que sinto agora, tudo o que quero dizer para todos vocês. Eu quis findar o ano com A Última Crônica de um grande escritor.

Feliz Ano Novo!

Cinthya


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Em 2011...


Em 2011 eu avancei em vários campos da minha vida, no pessoal, no profissional e no afetivo. Cresci, evolui, amadureci...

Em 2011 eu fiz novos amigos e perdi velhos amigos (Vai ver nem eram tão amigos assim)...

Em 2011 o mundo presenciou a tragédia na região serrana do Rio e o terremoto no Japão. Cenas tristes que jamais vamos esquecer e vimos, também, verdadeiras lições de superação e solidariedade.

Em 2011 vi amigos casando, vi outros se seprando...

Em 2011 conheci pessoas novas e me reaproximei de pessoas que estavam afastadas de mim...

Em 2011 eu perdi um parente muito querido, acompanhei amigos que também perderam parentes. Chorei com eles e eles choraram comigo...

Em 2011 vi minha amiga e parceira de blog mudar de emprego e evoluir profissionalmente, continuei no mesmo emprego e também evolui no campo profissional. Vibramos juntas...

Em 2011 vivi encontros e despedidas... Acreditei em quem não devia e dei voto de confiança a quem não mereceia. Me decepcionei mais uma vez, mas, mais uma vez aprendi...

Em 2011 eu chorei por quem não merecia e sorri quando não deveria...

Em 2011 me encantei e me desapontei. Tentei e falhei, tentei de novo e consegui, afinal, eu não podia desistir...

Em 2011 vi o mundo perder Steve Jobs e se sentir um pouco orfão, acho que eu também me senti assim, o cara era um gênio.

Em 2011 acompanhei o casamento real. Para os românticos foi o casamento dos sonhos...

Em 2011 vi o mundo chocado diante das fortes cenas da possível morte de Muammar Gaddafi e acompanhei a primeira mulher ser empossada como Presidenta da República...

Em 2011 vi o 11/11/11 sequência que só será possivel no próximo século e tantas pessoas não viram...

Em 2011 vi surtos de dengue e meningite se espalhar pelo Brasil e graças ao meu bom Deus eu não fui contaminada...

Em 2011 resolvi dar uma chance ao amor e a mim mesma de ser feliz de novo. Mais uma vez foi um tiro n'água e não foi dessa vez que meu coração desencantou... Ano que vem tento de novo!

Em 2011 eu fiz muita coisa que tive vontade e aprendi a me conter quando era necessário. Se eu tivesse a chance de fazer de novo, sem dúvidas faria tudo igual.

Que venha 2012 cheio de novas oportunidades.

Verônica

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ah, Se Eu Pudesse...


(by Cinthya)

Foram muitos os dias que vivi e dos quais me recordo com imensa felicidade e muita, muita saudade. Foram muitas risadas soltas, gargalhadas altas, daquelas de fazer estremecer até o útero da gente. Momentos compartilhados com os amigos que hoje, por um ou outro motivo, estão distantes. São muitas histórias!

Há mais ou menos umas 04 semanas eu tenho recordado com especial saudade de um reveillon que passamos em Salvador/BA. Sabe aqueles encontros que só podem ter sido traçados por Deus? Sabe aquelas gostosas coincidências que somente Deus é capaz de fazer acontecer? Tudo deu certo naquele final de semana. Cada detalhe foi mágico, divertido, vivido, sugado. Nós nos embebedamos de vida!

Cada amigo guarda consigo os pedacinhos daquela história deliciosa como se fosse um tesouro valiosíssimo que deve ser mantido com todo zelo dentro de nossos corações. Todas as músicas ouvidas, todos os nomes presentes, todos os assuntos abordados, todo o dia (das 07 as 18 horas) passado na praia onde ninguém nem lembrou de comida tamanha a felicidade.

Que saudade gostosa desse Reveillon. Que bom saber que não preciso ter muita grana para viver coisas tão significa tivas e que a minha vida é repleta de momentos felizes onde um ou outro não tão feliz assim acontece para variar um pouco as coisas.

Então, se eu pudesse, reuniria de novo todos os amigos e, de novo iria pra Salvador, passar mais um Reveillon por lá. Agora com os novos membros que chegaram para agregar a turma: filhos, maridos, esposas. Enfim. Se pudesse sentaríamos de novo em frente ao mar e por lá cataríamos:

 "A gente que enfrenta o mal
Quando a gente fica em frente ao mar
A gente se sente melhor"

Se as pessoas soubessem o que realmente tem valor nessa vida! Se se permitissem ser felizes, apenas por ser! Se lavassem seus corações de todo materialismo que teima em queimar-lhes a alma...

Que bom que o meu epitáfio será um lindo livro de humor e amor. E que quando eu não posso realizar algo, eu consigo me abastecer de doces lembranças que me dão a certeza de que sou feliz, amada, amiga, eterna.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Atende o telefone que tem gente na linha!!!


Se existir, no mundo, uma pessoa mais negligente que eu em relação a telefone celular eu desconheço.

Quando saio de casa sem o celular sinto como se estivesse faltando uma peça de roupa. Mas, se estou em casa o aparelho móvel é praticamente esquecido. É como se o celular, na rua, me oferecesse alguma segurança. A sensação de poder ligar e pedir socorro caso algum imprevisto aconteça causa um certo conforto. Estando em casa, minha zona maior de conforto e proteção, esse cuidado é deixado de lado.

Durante a semana, no trabalho, eu atendo dezenas de ligações por dia. Nos aparelhos fixos na minha mesa e no telefone celular. Quando chega a noite e o final de semana a vontade de falar ao telefone é praticamente zero.

Acho tão bonitinho casais que passam horas no telefone falando coisas de amor ou trocando informações banais, mas eu, sinceramente, não sou nem um pouco chegada nessa prática. Objetividade é o meu lema. Ligou, falou o necessário e desligou. Confesso que já tive meus momentos de passar horas pendurada no telefone, mas isso foi na adolescência, hoje em dia tenho pavor.

O problema é que o fato de eu não atender as ligações, geralmente porque não as vejo, irrita muita gente. Minhas amigas brigam, minha mãe reclama, e os namorados que já tive e deixei de atender já passaram muita raiva comigo. Mas não é intencional. Nem é falta de atenção, desprezo ou qualquer coisa assim. É displicência pura. Só isso... 
Nesse final de ano, muitas mensagens de texto chegando, muitas ligações e eu... só vejo depois. Algumas mensagens eu respondo, outras não. Mas, adoro todas! Algumas ligações eu retorno, outras não...

Gostaria de usar esse espaço hoje para me desculpar com as pessoas com quem fui negligente ou desatenciosa. Não era a intenção, eu juro! Prometo que em 2012 vou atender a todas as ligações que chegarem no meu celular. As que eu não atender, eu retorno. É promessa pro ano novo e eu vou cumprir!

Portanto, quem me ligar terá um retorno.

Verônica

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Enquanto Houver Inocência!


(by Cinthya)

Não é novidade pra ninguém que o exercício do ofício da maternidade é a coisa mais prazerosa da minha vida. Me sinto feliz em empenhar-me para dar ao meu filho a infância mais linda que ele puder ter. Com todos os sonhos que as crianças felizes têm e com toda a pureza que esses seres, e apenas eles, conseguem desenvolver.

Chegou o Natal. Ele ditou e eu fiz o pedido dele para o Papai Noel. E falei de como o Papai Noel visita as casas à noite para entregar os presentes, de como as crianças acordam no dia de natal e vêm os presentes em seus quartos, que o Bom Velhinho deixou na calada da noite. Fantasiei tudinho e enchi a cabecinha dele daquela linda e pura imaginação. Ele me encheu de perguntas, porque para o Pedro todo detalhe tem que ser minuciosamente explicado e enquanto existirem dúvidas, ele não cansa de perguntar "por que?". Então Papai Noel tem uma cópia da chave lá de casa, que a Vovó deu pra ele. Caso contrário, como ele conseguiria entrar, hein? (coisas de Pedro)

Comprei para ele uma bicicleta, ou bilicicleta como ele mesmo fala, e fiz tudo muito bem escondido para ele não perceber e nem desconfiar. Fomos dormir ansiosos pela manhã seguinte. Na madrugada eu coloquei a bicicleta dentro do quarto, silenciosamente. Quando o dia amanheceu eu acordei primeiro que ele, mas fiquei esperando ele acordar, só para ver a reação. Então ele me deu um beijo, o "bom dia, mamãe" mais lindo do  mundo e foi aí que ele viu a bilicicleta.

Deu um pulo, abriu os olhinhos e disse "Mamãe, o Papai Noel já deixou o meu presente". A expressão do rostinho dele foi tão linda, os olhinhos brilhando, o sorrisinho de canto de boca. Tudo tão verdadeiro. O coração dele estava aos pulos. Aquilo me deixou emocionada. Ele não parava de olhar para o presente. Era nítido a satisfação no seu semblante. Logo levamos a bicicleta pra fora e ele foi brincar. E contou pra todo mundo que Papai Noel esteve lá em casa, de noite. Entrou "mem" (bem) caladinho e deixou o presente dele lá no quarto.

Ele perguntou se eu vi quando o bom velhinho foi deixar o presente. Eu disse que vi apenas quando ele já estava saindo, vi uma parte da roupa vermelha saindo pela porta. Ele escutou tudo muito atentamente e os olhinhos viajaram como se ele estivesse criando a imagem na sua cabecinha.

É linda a inocência do meu filho. É lindo ser tão presente na vida dele. É bom demais ser mãe! Eu me tornei uma pessoa imensamente melhor depois que o Pedro chegou na minha vida.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal!




Todos os finais de ano, os votos de felicidade e esperança se renovam. Fazemos uma reflexão e um balanço do que foi o ano, mediante o resultado fazemos inúmeras promessas. O espírito de solidariedade fica mais pulsante em nós e vemos nosso próximo, realmente, como um próximo.

Nesse Natal, nós, aqui do Divã, desejamos que o espírito natalino na sua mais genuína essência se faça presente em cada lar e no coração de cada membro das vossas famílias. Desejamos tudo de melhor que se pode desejar.

Contamos com vocês aqui em 2012.

Um beijo especial em cada um de vocês que nos acompanharam aqui no Divã nesse ano de 2011.

Verônica

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aquilo Que Eu Sempre Quis Ser


(by Cinthya)

Eu devia ter uns 15 anos de idade. Nessa época todas as minhas amigas eram lindas e como toda menina linda de 15 anos elas namoravam. Bom, essa regra de ser linda e ter namorado não se estendia a todos e eu, é claro, estava na fatia dos excluídos.

A gente saia pras festas e eu era o único ser a não namorar ninguém. Mas como eu sempre tive amigas, elas me cediam seus namorados para que eu pudesse, ao menos, mexer o esqueleto com eles e assim, me sentir “normal”. Eu não me revoltava porque tinha plena consciência de que eu era mesmo desprovida de beleza e com isso aprendi a valorizar outras coisas no ser humano, coisas que estão além da aparência física.

Lembro que havia um comercial de TV onde uma moça, vestida elegantemente caminhava num estacionamento de carros e, como era magrinha conseguia passar entre um carro e outro sem tocar os retrovisores. Eu ficava imaginando se um dia eu pudesse fazer aquilo. Poxa, seria o máximo.

E os cabelos? Nossa, quando eu via um cabelo longo, achava lindo. A minha mãe insistia em cortar o meu cabelo curto e como ele é rebelde por natureza, o negócio não ficava visualmente agradável, enfim. Espinhas eram minhas eternas companheiras, sem falar nos óculos. Ai ai!

Eu sonhava em ser paquita e nunca esqueço da fisionomia de minha mãe quando eu afirmava isso. Ela devia pensar: Pobre da minha filha! Como a Xuxa vai aceitar uma paquita com melanina acentuada, cabelo curto, tóin óin óin, espinhas, óculos, 20 quilos acima do peso? Não, decididamente a Xuxa não me aceitaria no seu time de meninas loiras e em plena forma.

Então. Eis que o tempo passou e nisso eu fui descobrindo que posso ser do jeitinho que eu sempre sonhei. A descoberta foi maravilhosa. Empenhei-me e agora tenho o corpo que sempre quis ter e sempre que vejo carros juntos, passo entre eles, sem tocar em nenhum dos retrovisores. Faço questão de passar pelos lugares mais apertados (ha ha ha). Óculos ficaram no passado, meu papo é com as lentes de contato. Espinhas perderam-se no tempo. Uma boa alimentação me deu uma pele gostosa. Cabelo curto? Não. Longos, lisos e loiros.

É muito boa a sensação de olhar as fotos de 20 anos atrás e ver a gritante melhora de mim mesma. O bom nisso tudo é que eu nunca fui complexada com nada. Sempre soube lidar com os dois lados da moeda, com o antigo e o novo testamento da minha vida.

Hoje me sinto bem em saber que posso ser o que eu quero ser. Que posso ter o cabelo que eu quiser ter. Adoro ser bonita! Se eu soubesse que isso era possível, teria feito antes e, quem sabe, conseguiria ter sido paquita. Porque hoje, aos 35 anos isso fica um pouco difícil. Se bem que... Vou procurar o endereço da Xuxa, quem sabe??? Mas, ela ainda tem paquitas?

Então, você pode ser o que sonhar. Pode emagrecer, engordar, ficar loira, morena. Basta agir e não ter medo de mudar. Sem esquecer que o mais importante é ser feliz, indiferente de quantos quilos tenha.

Sou feliz demais, por tudo que sempre fui e por tudo que ainda serei. Por ser feliz com o que tenho, sem perder a capacidade de sonhar. Por descobrir a verdadeira beleza das pessoas. Por descobrir que sou eu mesma quem manda no meu destino. Sou feliz por ter me tornado aquilo que eu sempre quis ser.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Já Pintou O Verão...



... calor no coração, a festa vai começar...

Dia 22 de dezembro começa, oficialmente, o verão, daí começam a aparecer os corpos suados, sarados e bronzeados. As pessoas passam a sair mais e o desejo de pegação fica em processo de ebulição.  Os solteiros, que passaram o ano todo tentando encontrar o par, a metade da laranja, a tampa da panela... desencanam e passam a curtir o momento. Ninguém quer passar o verão agarradinho, até porque o calor nem permite isso. Mas é normal que os solteiros fiquem mais dispostos a assumirem essa condição e curtir a liberdade.

Já os casais, começam a passar pela prova de fogo. Quem ama e tem certeza do que sente, não se abala com a estação mais quente do ano e faz questão de curtir tudo ao lado do amorzinho. Tudo permanece na mais absoluta normalidade, sem alterações. No máximo, uma escapulida aqui, outra acolá... sem grandes complicações. Quando há alguma dúvida em relação ao que sentem, o bicho pega. Porque quem é comprometido, mas está insatisfeito, quer ficar solteiro e nessa época é comum ver namoros chegando ao fim.

"Os biquínis estão cada vez menores, e o consumo de cerveja cada vez maior..."


O legal dessa época do ano é que as pessoas se preocupam mais com a alimentação, se  cuidam mais, procuram academias e passam a praticar exercícios físicos para definir o corpo. O bom seria se essa prática se estendesse o ano inteiro. O que eu percebo também é o brilho no olhar da pessoas, os sorrisos mais presentes nos lábios, a felicidade e a disposição estampada nos rostos. Parece que o sol, o astro rei, é o responsável por essa mudança, mas na verdade não é, são as pessoas que causam essa mudança nelas mesmo.

Dá a impressão de que é preciso o verão chegar para causar essa mudança, esse sentimento de auto-valorização, essa elevação da auto-estima. A aceitação do que é, do que se tem e da condição de solteiro. Quando na verdade, sabemos que não é bem isso... O bacana seria se conseguíssemos carregar permanentemente em nós esse tipo de sentimento, né? Não é comum ver pessoas chorando e lamentando o fim de um namoro nessa época do ano. É como se as pessoas se bastassem. A quantidade de festas que surgem ajuda nisso. Ninguém quer perder tempo chorando pelo que se foi, quando há tanto por vir.

O verão é uma delícia, mas os lindos dias ensolarados devem ser constantes dentro de nós...

Verão, pode vir quente que eu estou fervendo!

Verônica

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Felicidade Em Doses Intercaladas


(by Cinthya)

O filósofo Nietzsche defendia um pensamento de que “o destino dos seres humanos é feito de momentos felizes e não de épocas felizes.” Com isso ele afirmou que a felicidade não é uma constante na vida de ninguém. Que por mais que você tente, se esforce e lute, jamais conseguirá ser feliz a cada instante, de forma ininterrupta.

A felicidade não é estática, não é um estado contínuo e sem fim. Em verdade, conhecendo bem o ser humano, se a felicidade fosse eterna, se fosse algo que estivesse em nós a todo instante, iríamos atrás da tristeza, pois para o Ser Humano nada que é totalmente dado tem valor.

É como se tudo obedecesse a um ciclo que não cessa e assim, é inevitável que você chore a morte, que você se emocione com o nascimento. Que você vibre com a vitória ou se deprima com a perda. Sábio é entender que isso passa e aproveitar cada estágio para crescer como pessoa. Agregar valores ao espírito e fazer valer cada fase, seja ela boa ou não tão boa assim.

Eu me considero uma pessoa feliz. No entanto em muitos dias a tristeza é certa. Por várias vezes a angustia me visita, o estresse me bate a porta ou o medo me atormenta a alma. O que percebo de diferente em mim é uma lembrança forte que trago de momentos felizes que por mim foram intensamente vividos. Recordar esses momentos faz com que eu tenha a certeza de que todo transtorno é superável e que daqui a pouco eu poderei, mais uma vez, estar sorrindo com a vida.

Quantas vezes eu solto gargalhadas ao recordar as aventuras e as proezas que já vivi com meus amigos. Quantas vezes eu durmo plena somente pela lembrança de uma certa mão que me acariciou a pele, de uma certa voz a me pedir um abraço, de certos lábios que tocaram os meus.

Eu absorvo tudo o que posso de um momento feliz. Quando ele acontece, eu sugo dele todo o seu pólen e me abasteço de vida. E não precisa ser um “grande acontecimento” para que a felicidade apareça. Nada disso. Na maioria das vezes ela vem fantasiada de simplicidade. Ela se camufla nas coisas mais sutis que me cercam.

Viver na esperança de uma felicidade eterna é bobagem. Gostoso é perceber as possibilidades que a vida nos proporciona para que essa felicidade aconteça. Porque os dias passam as horas correm, o corpo vai cansando, a alma desacreditando e a gente aprende a somente resmungar, reclamar, mal dizer.

Se o fim é a certeza de todos. Então, porque não olhar pro lado e ver o que temos às mãos para construir esses tais relâmpagos de felicidade? Preste atenção. Pode ser um olhar pedido na multidão. Quem sabe um beijo daqueles que a gente gostaria de estender pela noite afora. Um sorriso roubado. Enfim. Se a felicidade se apresenta em retalhos, tenha certeza, estou a fazer uma colcha linda cheia de retalhos aconchegantes para aquecer a minha alma quando o frio chegar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Sequestro Relâmpago. Pode acontecer com Você.




Camila achava que essas coisas só aconteciam nas grande metrópoles. "Sequestro relâmpago só acontece em capitais, aqui em Juazeiro tem disso não" Dizia ela. Mas no último domingo ela viveu as piores horas de sua vida.

Acompanhada de Cinthia (amiga dela, não é a Cinthya minha parceira de blog) e aproveitando a proximidade do natal com o comércio das duas cidades abertos no domingo ela foi às compras. Fizeram o que tinham que fazer em Petrolina e voltaram pra Juazeiro. Fizeram as compras em Juazeiro e quando estavam entrando no carro pra voltar pra casa foram abordadas por dois homens armados que tomaram o carro de assalto e levaram as duas como reféns.

Foram horas de ameaças, terror e medo. Cinthia tem um filho pequeno e só pensava nele enquanto estava sob a mira da arma do bandido. Camila, uma menina que ainda tem a vida toda pela frente, pensou por várias vezes que sua trajetória acabaria ali. O bandido dirigia de maneira imprudente e em alta velocidade, o risco de batida ou capotamento era iminente, (coisa que já aconteceu com o filho de um comerciante local, no acidente um dos bandidos e a namorada do rapaz morreram). Dirigiu por várias horas rodando pela cidade até alcançar a BA que dá acesso a outra cidade.

No momento da abordagem Cinthia estava ao telefone com o marido, quando entrou no carro o celular caiu pra debaixo do banco, sem que os bandidos percebessem e Ricardo ficou ouvindo tudo e compartilhando do medo e do temor com a esposa. Achando que elas ainda estavam em Petrolina, acionou a Polícia de lá e fecharam as saídas da cidade. Tomaram a pista errada.

Enquanto eles se dirigiam pra lá, o carro com Cinthia, Camila e os dois assaltantes seguia rumo a cidade de Curaçá. Lá dentro, as ameaças continuaram, eles perguntaram onde elas moravam e elas mentiram, disseram que moravam em outro bairro. Um dos bandido achou uma conta de energia no porta-luvas do carro. Disse a Cinthia que se ela ou o marido chamasse a polícia eles matariam todos.

Depois de horas de terror abandonaram as duas em uma estrada de chão bem longe de perímetro urbano. Quando largaram as duas e arrancaram com tudo, poucos minutos depois voltaram de ré e foi nessa hora que elas tiveram certeza que iam morrer, mas ele só vieram checar se elas tinham algum dinheiro ou celular nos bolsos. Algumas horas depois um carro com um casal de idosos passou por elas e mesmo receoso o ancião resolveu parar e ajudar aquelas duas jovens perdidas e assustadas. Eles levaram as duas pro posto da Polícia Rodoviária Estadual próximo dali e Ricardo foi buscá-las. Enfim, respiraram aliviadas. O pesadelo havia acabado e graças a Deus as duas estavam sãs e salvas.

Ouvindo o relato delas é impossível não se emocionar, chorei me arrepiei e senti uma sensação de alívio. Ambas colocarão em suas respectivas agendas dia 18 de dezembro como segunda data de aniversário, afinal, elas nasceram de novo.

Passada essa experiência traumática, ficaram algumas lições:

1- Sequestro relâmpago pode acontecer em qualquer lugar e com qualquer pessoa. Nada de achar que isso só acontece em capitais.
2- Evite deixar comprovantes de residência, crachá de empresa ou qualquer papel que posso identificá-lo ou revelar o seu endereço.
3- Não é seguro manter o tanque do carro sempre cheio, parece loucura, mas não é. Se o tanque do carro de Cinthia não estivesse cheio eles não teriam ido tão longe. Bandidos preferem carros com tanque cheio.
4- Nada de parar em frente ao carro e ficar vários minutos procurando a chave dentro da bolsa ou batendo papo. mantenha a chave à mãe, se possivel, procure-a antes de sair do estabelicimento que está. Ao chegar no carro entre o mais rápido que puder e saia imediatamente do local.
5- Tente estacionar em locais que tenham câmera de seguranças. Por exemplos: Orgãos públicos, prédios e condomínio.
6- Mantenha sempre a calma e não reaja.

Verônica

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Amor Não É Consolo - É Luz*


(by Cinthya)

Quantas vezes me sinto plenamente realizada, pelo simples fato de me encontrar em casa, num domingo à tarde, ouvindo Roberto Carlos cantar suas belas e profundas canções e sentir, através delas, saudades imensas de tantas pessoas maravilhosas que cruzaram meu caminho e que, por um ou outro motivo, afastaram-se geograficamente de mim.

Como é verdadeiro o sorriso que minha alma emana quando penso nas pessoas amadas que tenho na minha história. Como é doce o sabor que sinto quando beijo a face de um amigo querido, de um parente amado, do meu filho. Como é bom sentir, profunda e sinceramente, o desejo de ver o outro bem. De ver as dificuldades vencidas, os obstáculos superados.

Como é bom o esforço que faço para melhorar os meus defeitos, dia após dia. Como gosto quando reconheço meus erros e tento moldar-me no intuito de não cometê-los mais. Delicioso o sabor de ir se conhecendo a si mesmo. Entendo os limites que temos, aceitando as imperfeições, demarcando cada traço da nossa personalidade.

Como é bom não ter medo de arriscar. Jogar para ser feliz, sempre respeitando o nosso limite, nunca invadindo a vida do outro. Respeitar o próximo é um pré-requisito para a nossa felicidade. Não fazer para os outros o que não queríamos que nos fizessem. É tão simples.

Cada um de nós tem muito amor dentro do coração. Temos na verdade uma fonte inesgotável de amor, basta que a deixemos jorrar. E quando isso acontece a gente se torna uma pessoa muito mais feliz, porque todos passam a nos querer bem, a nos querer sempre por perto, a nos desejar o bem, a nos ter sempre em boas vibrações. A gente, quando ama de verdade, se torna eterno na vida das pessoas e passamos a perceber  que nem importa  quanto durou, importa sim o tamanho do significado que teve.

Isso se transforma numa cadeia positiva e a nossa vida só melhora. Amar é tão bom. Faz tanto bem pra nossa vida. O amor, posso afirmar, é a única e verdadeira finalidade de tudo. E ele sim dá a quem o tem a sensação de riqueza, de poder, de dever cumprido.

*Essa citação que é título do post é a dose filosófica de número 99 do livro "Nietzsche Para Estressados", de Allan Percy. Vale a pena ler!








sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Se eu morrer novo

 


 
Entendendo a fragilidade da vida e vendo diariamente notícias sobre jovens mortos decidi que, literalmente, não vou deixar para amanhã o que quer que seja. Afinal, o amanhã pode não chegar. Por esse motivo deixo um poema bacana pra terminar bem a semana. E deixo tambéms alguns conselhos: Aproveite o hoje, Viva o hoje. Cuide bem da sua vida. Seja prudente e cauteloso, não ponha sua frágil vida em risco. Seja Feliz.
Bom final de semana à todos!
 
Verônica
 
 
 
 
 
 
Se Eu Morrer NovoFernando Pessoa
 
 
Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Fila Anda... Em Círculos!



Recentemente fui perguntada por uma amiga, por quê a minha "fila" anda em círculos. Por que eu me (re)envolvo com as pessoas que já passaram por minha vida. Não tinha parado para pensar nisso, mas vi que a resposta é muito simples. Sou criteriosa, seletiva e desconfiada, para me envolver com alguem é necessário que esse alguém desperte em mim sentimentos como: admiração (o primordial e acima de tudo) e desejo. E cá pra nós, não é uma missão simples. Os poucos que conseguem essa façanha chegam e ficam. Por mais que o tempo nos afaste e nos reaproxime numa infindável ciranda de sentimentos.

O fim de um relacionamento não significa, necessariamente, que a história não deu certo, significa apenas, que ela cumpriu seu ciclo. Deu certo o tempo que tinha que dar e acabou quando tinha que acabar. As pessoas esquecem dos momentos bons que passaram juntos e se prendem ao fim, desprezando todo o resto e carregando consigo a impressão, errada, de que não deu certo. Deu sim! Mas, acabou!

Levando em conta tudo isso, eu vejo que não há impecílho algum em me envolver de novo com pessoas que, em algum momento, passaram por minha vida e me ajudaram a escrever um capítulo da minha história. Todas as relações que tive, duradouras ou não, deixaram experiências gostosas e boas recordações. Durou o tempo que tinha que durar e após o término a vida seguiu. Cada um para seu lado, mas sem ressentimentos ou mágoas. Os poucos que não se encaixam nessa descrição, nem merecem ser citados e foram entregues ao esquecimento. É como se nem tivessem existido. O tempo, sábio compositor de destinos, se encarrega de (re)unir as pessoas no momento exato e sempre apara possíveis arestas que, porventura, tenham surgido. Lá na frente, com tudo zerado, cabeça mudada e sentimentos amadurecidos nada impede que ex-casais vivam de novo boas histórias. Independentemente do tempo que elas durem.

Confesso que sou um pouco preguiçosa, tenho preguiça mesmo de começar uma nova história e passar por todo aquele processo de: se conhecer, falar de si, ouvir do outro, impressionar, ser impressionada e viver aquela tensão que um primeiro encontro provoca. Também não sou adepta da filosofia de "eu quero mais é beijar na boca" não critico nem recrimino quem o seja, mas não me agrada a ideia de beijar por beijar. Acho frio, impessoal e pouco higiênico. Assim, evito essa etapa (trabalhosa e constrangedora) de primeiro encontro e garanto a felicidade vivendo novos e bons momentos com bons e velhos conhecidos. E é aí que a minha fila anda, em círculos.

"E é por isso, amor, que de vez em quando, rola um flashback..."

Verônica


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Um Presente Mineiro


(by Cinthya)

Há algum tempo eu escrevi um texto aqui no blog sobre um namorado que eu tive e que me marcou muito pela afinidade que tínhamos. Éramos dois "Ridículos Apaixonados" que viviam intensamente um relacionamento que, embora passageiro, marcaria nossas vidas para sempre de uma forma positiva.

Esse meu amigo ex-namorado voltou para seu estado de origem que é Minas Gerais. Casou e, assim como eu, hoje tem um filho lindo. Mas nossa amizade continua viva, graças a Deus. E foi num bate papo de amigos que eu mencionei com ele a vontade que eu estava de comer um tal de Queijo Minas Frescal (original) e que eu não tinha encontrado aqui.

Ele me atiçou a vontade ao falar de um queijo que é feito numa determinada região das Minas Gerais. Um queijo feito de forma artesanal e que é uma delícia. Eu fiquei babando de vontade.

Ontem cheguei em casa e tinha lá em cima da mesa uma caixa de Sedex. Destinada à mim e remetida por ele. Quando abro, eis a gargalhada: Um Queijo Minas Frescal, autêntico, feito de forma artesanal e que é uma delícia.

Então, porque não dizer que o meu presente de Natal já chegou? Por que não dizer que já recebi um presente pra lá de especial. Não pelo queijo. Mas pelo carinho de quem me mandou. Pela delicadeza dele em encomendar esse queijo, em ir aos Correios e postar para mim.

A riqueza da vida eu tenho nas mãos. Afirmo isso porque crio laços eternos com as pessoas. Não tenho amizades passageiras. Não tenho pessoas que passam por mim e caem no esquecimento. Para mim, tudo é enraizado. É verdadeiro. E não importa a distância, no dia que eu precisar de socorro, muitas mãos me alcançarão para me ajudar. Isso me deixa MUITO feliz e com uma sensação dever cumprido.

E viva a vida! E viva as Minas Gerais!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Salve, Salve Mestre Lula!



Luiz Gonzaga foi um dos mais completos instrumentistas e um dos compositores mais criativos que a música popular brasileira pôde conhecer. Nasceu no dia 13 de dezembro de 1912 no sopé da Serra do Araripe. Na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco. O lugar que o inspirou para mais tarde cantar "lá no meu pé-de-serra, deixei ficar meu coração..." Morreu em Recife no dia 02 de Agosto de 1989.

O mestre Lula era um músico completo, compunha e cantava com a alma, falava com saudade das belezas de sua terra e com tristeza das injustiças que o povo nordestino sofria nas áridas terras do sertão de Pernambuco.

Todos os anos em Exu acontece a festa de comemoração do aniversário de Luiz Gonzaga e foi numa dessas festas que eu e minha Parceirona Cinthya, vivemos uma das mais engraçadas experiências das nossas vidas.
Todos que acompanham o Divã sabem da nossa admiração por Targino Gondim - o sanfoneiro de ouro na nossa região - Targino é um dos incentivadores da festa em homenagem ao Rei do baião, e nós que somos apaixonadas pela cultura, pela festa e pelo rei, decidimos prestigiar esse evento tão rico.

Cinthya como sempre muito precavida, fez questão de pesquisar, entrar em contato e reservar um quarto no hotel na cidade. Falou com o prestativo atendente que garantiu a reserva do quarto mesmo sem termos feito o depósito para confirmar a mesma. Embarcamos na rodoviária de Petrolina, esbaforidas, atrasadas e por pouco não perdemos o ônibus. Fomos de Petrolina a Exu tomando cerveja enquanto todos os outros passageiros (inclusive os homens) tomavam água mineral, refrigerante, água de côco e etc... Não tinha como não sermos observadas. As euforia da viagem, a alegria de estarmos viajando juntas pela primeira vez, a expectativa pela festa e a ansiedade por chegar logo se misturam causando um frisson e a balbúrdia que provocamos no ônibus era notável.

Em todas as paradas que o ônibus fazia, lá íamos nós reabastecer nosso estoque de latinhas. E algum passageiro sempre dava um jeito de puxar assunto. Certamente pra ver de perto aquelas duas mulheres ousadas que se comportavam diferente das demais.

Chagamos em Exu, não tinha reserva no hotel. O rapaz que garantiu as reservas a Cinthya estava de folga e só voltaria na próxima segunda-feira. Ficamos ao ver navios numa cidade estranha, subindo e descendo as ruas enladeiradas carregando nossas respectivas malas. Um dos passageiros do ônibus nos reconheceu perguntou o que houve e contamos a nossa história, solícito e prestativo como bom morador de cidade do interior, nos ofereceu a casa dele, que ainda estava sendo mobiliada para o seu casamento, nos dava a chave para que pudéssemos nos acomodar. Desconfiadas e medrosas como boas moradoras de uma acidade que já deixou de ser interior há tempos, recusamos graciosamente.

Continuamos a nossa procura sempre pedindo informação e contando nossa história, depois de horas de procura encontramos um mini-hotel que tinha um quarto disponível, mas tinha um "pequeno" detalhe: o banheiro do quarto estava com um problema na parte hidráulica e estava desativado. Teríamos que usar o banheiro do corredor (que não tinha lâmpada). Aceitamos, claro! Afinal, o que é um tombo pra quem está quebrado? Guardamos nossa bagagem e fomos procurar um lugar pra comer. Depois pensaríamos no banho. Mesmo com toda essa confusão não perdemos a empolgação e o sorriso não desapareceu do nosso rosto. Em um dado momento cogitamos até irmos pra festa de mala e cuia. Cinthya palhaça que só ela, tornava a nossa procura ainda mais difícil. Afinal, carregar mala pesada e rir (gargalhar) ao mesmo tempo não era muito fácil não.

Pois bem, fomos dar uma volta na cidade e conhecer o local. Paramos em um restaurante muito simples, mas muito organizados. Pedimos o cardápio, não tinha. Então, resolvemos pedir o prato da casa. Cinthya muito espirituosa e com a empolgação que lhe é peculiar, pediu, com toda ênfase que se pode existir, uma cerveja beeeeeem gelada. A garçonete, desconcertada, informou que era um estabelecimento evangélico e não vendiam bebidas alcoólicas. Sem perder o rebolado, a morena pediu então, uma fanta beeeeeem gelada e foi só a garçonete virar as costas para cairmos na gargalhada outra vez. Tudo era motivo de riso, tudo era motivo pra festa.

Depois do jantar, fomos dar mais uma volta pela cidade e paramos numa churrascaria que estava tendo um forró bem animado. A gente precisava de uma cerveja beeeeeem gelada porque a noite estava muito quente. Foi lá que conhecemos dois cearenses que estavam hospedados no mesmo hotel que nós, estavam na recepção quando chegamos e ouviram a nossa história. Atenciosos, gentis e solícitos nos fizeram companhia na churrascaria, nos deram carona de volta para o hotel, ofereceram o banheiro deles para que pudéssemos tomar banho, afinal, o do corredor não tinha lâmpada.

Chegando de volta ao hotel, pedimos um minuto para pegarmos nossas coisas no nosso quarto, armamos um planos para nos defendermos de um possível ataque, sei lá, né? Vai que eles fossem tarados.
Decidimos então, uma ficaria no nosso quarto conversando com os dois enquanto a outra tomava banho no quarto deles. Assim fizemos, deu tudo certo e eles sequer demonstraram segundas intenções. Fomos pra tão sonhada e esperada festa, fomos encontrar nosso amigo, incentivador e sanfoneiro de ouro; Targino. Contamos a nossa história pra ele, e levamos uma bronca, afinal, ele teria facilitado, e muito, as coisas pra nós, conseguiria hospedagem fácil no parque Asa Branca, na pousada Januário, perto do local onde se hospedam os artistas. No final da festa, fomos no hotel pegar nossas malas para nos instalarmos onde a banda estava instalada. Desobedecemos a decisão dele de ir dormir, e assim que ele se recolheu voltamos pra festa. Dançamos forró até o dia amanhecer, nos divertimos como nunca e só fomos dormir depois que todas as sanfonas do parque haviam se calado.

Horas mais tarde, acordamos num sobressalto, alguém tinha colocado no som do carro o CD de Targino e achamos que a festa já havia recomeçado. Doce engano. Nos recompomos do susto e nos preparamos para mais uma maratona. Visita ao museu, lugar aliás, onde nos emocionamos muito, com fotos, objetos e histórias... Depois fomos acompanhar a missa à sombra do pé do cajueiro. E ver aquela reunião de sanfoneiros, todos num só rítmo, num tom saudoso e melancólico. Foi lindo de ver.

Um final de semana que deixou saudades e que, certamente, estará guardado em nossos corações enquanto vida tivermos.
Hoje 13 de dezembro de 2011 completam exatos 09 anos dessa aventura e as lembranças permanecem vivas em minha memória.
Parça, obrigada por compartilhar comigo uma das viagens mais incríveis da minha vida.

Verônica

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Hora De Dizer Adeus


(by Cinthya)

Todo relacionamento tem seus altos e baixos. Não acredito que uma história à dois seja sempre um jardim florido de primavera, onde tudo exala perfume e beleza. É inevitável que chegue o outono e as folhas caiam, as cores se anulem e os perfumes mudem. É inevitável. Porém, daqui a pouco a primavera venha a ressurgir e tudo volte ao seu mais bonito estado.

Mas e quando o lado ruim da relação vem sendo uma constante? E quando as brigas conseguem desgastar o gostar da gente? O que fazer se a gente procura, mas já não vê aquele brilho que tanto nos atraia? A gente busca na pessoa amada aquela admiração e percebemos que, aos poucos, essa admiração foi escorrendo entre os dedos. Aos poucos as coisas tomam outros rumos, os defeitos se evidenciam de forma mais forte. O tolerável é reduzido a quase nada e tudo nos irrita.

A gente vai suportando um dia após o outro. Na esperança de que as coisas voltem ao seu estado normal. Mas, ao contrário do que queremos, o rumo é outro. E as dificuldades só aumentam. É triste ver um relacionamento se arrastando. Ver dois corações que outrora foram tão apaixonados se depararem com a falta de amor.

Ninguém opta por sair da relação e nisso vai se esperando que à noite as coisas se amenizem... E mais uma noite o amor não acontece... E então apostamos que no dia seguinte as posturas mudem, retomem o formato que tinham no início do relacionamento... Mas as picuinhas se mostram, mais uma vez, superiores e reinam absolutas.

O ideia da separação até nos surge na mente, mas lembramos de tanta coisa que construímos e tentamos resgatar um amor que, de repente, nem existe mais. Um amor que já teve seu início, seu meio e que grita seu fim.

Qual a hora de dizer adeus? Por que os casais insistem tanto em dar continuidade a uma relação desgastada? Por que continuar se machucando? A gente finda se acostumando com as pessoas ao nosso lado. A gente tem medo de arriscar um recomeço.  A gente se acomoda pelo medo de tentar o novo e descobrir que o novo não é melhor que o atual. Esse triste pensamento é certo na mente de quem  vive uma relação desgastada.

Enfim, de repente não há uma regra que defina exatamente a hora de dizer adeus. A nossa vontade de se feliz é que deve se sobressair. A nossa coragem em recomeçar é que deve ser soberana. A nossa certeza de querer viver uma vida feliz, e que para isso, não temos necessariamente que ter um parceiro falido ao nosso lado.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Fechado Para Balanço


(by Cinthya)

Final de ano chegando e começam as velhas reflexões sobre tudo o que aconteceu e o que não aconteceu no decorrer do ano que finda. São várias as conquistas, são inúmeras as coisas que precisarão passar para a agenda do próximo ano. Em verdade, acredito que ninguém consegue fugir dessa reflexão. Talvez por isso as pessoas tendam a ficar mais sensíveis nessa época.

Agravado pelo processo de balanço de final de ano, certos corações se trancam para o mundo. É um momento onde se analizam as dores causadas, onde se estudam os pontos críticos que acabaram por causar tanta confusão dentro da alma. São feridas que não cicratizaram. São mágoas que não passaram.

O fato de seguir em frente não significa que as coisas foram bem resolvidas, que as feridas foram curadas. Não. Longe disso. O fato de seguir em frente quer dizer que não nos permitimos ficar estáticas dentro do caos, passar dias, meses, anos mergulhadas na dor. A gente segue em frente, tapa os ouvidos para a nossa prórpia dor, atropela tudo e segue em frente.

A dor fica sufocada lá num cantinho secreto. Por vezes ela ameaça gritar e pular fora. Mas a gente se (re)descobre mais forte e torna a abafá-la. Assim vamos seguindo. No entanto, as sequelas surgem e tornam-se visíveis quando nos percebemos em determinadas situações, tal qual a deconfiança que adquirimos em relação a quem se aproxima de nós no intuito de nos conquistar. A nosssa peneira fica mais refinada. As exigências crescem, aumentam. E a gente vai aprendendo a escolher melhor. Passamos a valoriza mais a nossa própria companhia. Passamos a depender menos do outro para construir a nossa própria felicidade. Isso é bom.

Não se jogar em qualquer abraço. Não ceder a qualquer cantada barata. Não. Para um coração fechado para balanço a cantada tem que ser, no mínimo, muito boa para causar impacto.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pai, você foi meu herói meu bandido...




O sonho do Sr. Raul sempre foi que seu primogênito, Raulzinho, assumisse o seu lugar na empresa. Empresa que ele herdara de seu pai e pretendia deixar para os filhos. Sr Raul era um excelente engenheiro, dono de uma conceituada construtura . Passou ao filho tudo que aprendeu com seu pai e depositou expectativas em demasia em cima do pequeno Raulzinho.

O desejo que seu filho, assim como ele, se tornasse um competente engenheiro era notório e ele nunca escondeu isso de ninguém. O menino cresceu com a pressão da cobrança e como não poderia deixar de ser, ao concluir os estudos ingressou na faculdade de engenharia. Cursou, forçadamente, anos e anos de uma faculdade que ele não queria, só para fazer a vontade do pai, mas não era daquilo que o jovem Raul gostava. Ele era das letras e não dos números, ele não se via sendo engenheiro, ele queria ser advogado.

Fazer uma coisa que a gente não gosta, cumprir uma missão que nos deram sem, ao menos, nos perguntar se queríamos é um fardo pesado demais e nem todos conseguem carregar. O jovem Raul não conseguiu carregar o fardo dele. Faltando 6 meses para o final do curso, Raulzinho abandonou aquele mundo que não lhe pertencia para ir em busca dos seus sonhos. Feriu seu pai de morte. Sr Raul considerou uma traição o que o filho acabara de fazer. Trancar a faculdade e jogar para o alto anos e anos de sonhos, planos e expectativas foi demais para o coração velho e cansado do patriarca daquela família.

Pai e filho romperam os laços de união, amor, afeto e companheirismo que os uniam. Raulzinho tentou, em vão, de todas as maneiras convencer o pai de que tocaria os negócios da família atuando em outra área. Tentou explicar que a identificação com as leis era muito maior que com os números e cálculos, aliás, a identificação com esses era inexistente.

Depois do rompimento, Raulzinho saiu de casa, arrumou um emprego e teve de estudar muito pra passar em uma Universidade Federal, não podia contar com o apoio do pai. Aquele era um sonho dele e ele deveria arcar com as consequências da sua escolha. Os natais e aniversários nunca mais foram os mesmo. Raulzinho proibido de entrar na casa onde foi criado sentia falta do aconchego familiar, mas o velho Raul estava irredutível.

Os anos se passaram e o pai já cansado e calejado foi acometido por uma grave doença que o levou a morte poucos dias depois de descoberta. O pai morreu sem perdoar o filho e o filho hoje vive com a tristeza de ter perdido o amor do seu pai. A profissão dos seus sonhos, hoje não lhe proporciona nenhum prazer. O arrependimento de ter preterido o sonho do pai em favor do seu, atormenta o jovem e recém formado advogado. A vida deixou de fazer sentido quando o seu pai lhe virou as costas. O tempo não volta e o que foi feito não pode ser mudado.

O que resta ao filho, é tentar conviver com essa dor. A dor da perda e sobretudo a saudade do pai. Saudade do abraço que não foi dado e do perdão que não veio. Saudade do que poderia ter sido e não foi. SE ele tivesse terminado a faculdade e depois optasse por um segundo curso. SE ele tivesse tentando, aos poucos, convencer o pai de que ele não tinha talento para aquilo. SE ele tivesse pedido ajuda ao pai para amar aquela profissão. SE... Remorso é um sentimento muito presente em sua vida e nada será capaz de mudar isso.


Verônica








Pai
Fábio Júnior
Pai, pode ser que daqui a algum tempoHaja tempo pra gente ser maisMuito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez
Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esses vinte ou trintaLongos anos em busca de paz....
Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo, tô tentando vivendo e pedindoCom loucura pra você renascer...
Pai, eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo Pra falar de amor pra você
Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa, fala um pouco tua voz tá tão presaNos ensina esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver
Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criançaQue um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredoNos teus passos você foi mais eu
Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peitoPra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filhoNo tapete da sala de estar
Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigoNem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminhoQue hoje eu sigo em paz

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Na Hora Da Raiva


(by Cinthya)

Não gosto de estourar de raiva. Quando isso acontece a gente perde completamente o controle, não se pensa em nada, não se mede as palavras e nem a potência dos sentimentos lançados ao vento.

Esse momento só precisa de um pequeno detalhe para estourar. Basta uma palavra, uma indireta, um esquecimento e pronto. A gente pipoca de ódio e quando começamos a falar buscamos não só o assunto presente, mas também as coisas passadas que apesar de já terem acontecido há um bom tempo, ainda arranham o nosso ego, a nossa alma.

É como se fosse um gatilho que ao ser acionado lança um mecanismo nos nossos arquivos e rebusca tudo o que nos magoou, tudo o que aquela pessoa fez e que não nos agradou, tudo o que causou feridas dentro da gente. Nisso a gente magoa o outro baseado num momento de fúria. E solta palavras, solta veneno, lança a mágoa no coração do parceiro.

Acho tão triste uma briga de casais. Bom seria se pudéssemos resolver tudo numa boa, apenas na conversa, sem alterações de ânimo, sem exageros e sem irônias. Mas é sempre tão difícil. Ninguém quer abrir mão de seus direitos. Ninguém quer ceder. E assim as brigas vão acontecendo, as pessoas vão se ferindo.

Mas depois, vem a calmaria. Basta confiar no Senhor Tempo e as coisas vão calreando-se. E quase sempre a cama volta a ser o ninho do amor, do perdão e do desejo... Até que um dos dois volte a tocar na ferida. Enfim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Te amo e o tempo não varreu isso de mim...



Hoje eu vou contar a história de Maria uma mulher à frente do seu tempo que viveu muitas experiências em rítmo frenético.

Maria terminou o colegial muito cedo, sempre foi a mais nova da classe, fez o ensino médio e concluiu o segundo grau sempre muito avançada. Ingressou na faculdade ainda uma menina. Foi lá que conheceu João o homem que se tornaria o amor de sua vida. Maria era filha de uma família nobre e respeitada na cidade. Enquanto João pertencia a uma família humilde, sem posses e pouco conhecida. Eles se conheceram no grupo de teatro. João não fazia faculdade, sequer havia terminado o segundo grau.

Apesar de toda diferença e classes sociais distintas João e Maria se apaixonaram loucamente, viveram um romance intenso até que Maria engravidou. Decidiram, então, morar juntos e constituir uma família, foi quando ela se viu obrigada a tomar a decisão mais difícil de sua vida até então: abandonar a faculdade. As dificuldades de convivência eram enormes. As brigas surgiram com uma frequência ainda maior e pouco tempo depois que o bebê nasceu eles se separaram. Em uma das muitas discussões que tiveram, Maria exigiu que João se calasse pois a casa era dela. Magoado e com o orgulho ferido, João partiu para nunca mais voltar.

Maria tentou de todas as formas reconquistar aquele amor, mas João era orgulhoso demais e percebeu que não conseguiria viver uma história com a mulher amada sentindo-se inferior, menos instruído, menos culto e financeiramente desfavorecido. Romântica e apaixonada, Maria nunca se importou com essa diferença social, nunca se prendeu à coisas materiais, mas seu instinto de menina mimada sempre se sobressaía e isso atingia diretamente o ego de João.

O tempo passou e ele permaneceu irredutível. Ela por sua vez, vendo que jamais conseguiria reverter aquela situação, desistiu de reconquistar o seu amor e decidiu retomar a sua vida. Foi quando conheceu Pedro. Um jovem muito estudioso que, assim como Maria, vinha de uma família nobre. Pedro não se importava com o fato de Maria ter um filho, ele se apaixonou e era com ela que ele queria ficar. Maria foi embora com Pedro, morou anos fora do país e lá engravidou do seu segundo filho. Voltaram para o Brasil e ela retomou os estudos. Concluiu a faculdade e hoje é uma médica respeitada. Junto com o marido montaram uma clínica renomada e vivem até hoje uma vida tranquila.

Maria nunca esqueceu João e o amor que sentiu e ainda sente por ele. Convive com esse amor guardado no peito. O filho que Maria teve com João hoje é um homem feito, mas ela consegue se lembrar de pequenos detalhes de quando ele ainda era um bebê em sua barriga. Eu não conheço João, mas conheço o brilho no olhar de Maria ao falar dele. Apesar de todo amor que Pedro lhe ofertou durante esses anos todos, Maria sempre conviveu com uma lacuna no coração. A falta que o grande amor da sua vida faz. Maria e João estão ligados diretamente pelo filho que tiveram, essa conexão jamais poderá ser interrompida. João também casou e construiu uma família bonita. Todos vivem em harmonia, mas nenhum deles sabe a dor que Maria carrega em seu peito.

Sendo muito sincera em uma conversa bem franca, Maria me confidenciou que ainda tem esperança de um dia poder viver a plenitude do seu amor por João. Eu fiquei maravilhada com a força e resistência desse sentimento. É raro hoje em dia encontrarmos pessoas que sejam tão decididas e predestinadas assim.
Torço pela felicidade de Maria, com ou sem João.

PS: Os nome usados são fictícios para preservar a identidade dos personagens.

Verônica

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Coração de Pedra


(by Cinthya)

Ela sonhava com um amor lindo. Um amor daqueles de tirar o fôlego da gente. Um amor igual ao que ela escrevia em suas poesias. E foram surgindo os pares românticos em sua vida. Ela tentando colocar em prática todo aquele acervo de sentimentos que ela tinha guardado dentro de seu coração. Mas tamanha foi sua surpresa ao perceber, parceiro após parceiro, que o mundo real era tão diferente do que ela sonhava.

Aos poucos ela se deparava com pessoas frias, que não sabiam amar da forma que ela almejava ser amada. E foi percebendo que não dá para ser apenas a mocinha de seu conto, muitas vezes a vida cobra que você seja a vilã. A cada patada da vida, ela endurecia um pouco. A cada arranhada em seu coração, ela se trancafiava mais e mais.

Hoje existe um coração trancafiado. Uma alma sedenta de amor, mas protegida por um muro de pedra. Um alto muro de pedra. Ela não deixou de acreditar no amor, apenas não consegue acreditar no que vê, no que ouve. Ela precisa de mais. Não será qualquer um que conseguirá lhe tocar a alma.

Ela chora, tem medo. Pois aprendeu que o mundo não é puro, que as pessoas não são puras. O egoísmo reina inclusive nos corações. Ela teve que fazer tudo sozinha. Se virou sozinha. Obteve sucesso, é bem verdade, mas o preço de tudo isso foi esse coração desconfiado. Ela endureceu. Não existem mais tantos sonhos.

Quem vai julgá-la? Cada um sabe as dores que traz na sua alma. Cada um sabe as dificuldades que enfrentou pelo caminho. Cada um sabe os espinhos que lhe perfuraram a pele, cada um sabe de si...

Vendo as pessoas e seus comportamentos fica realmente difícil acreditar que um dia poderá construir uma história com as bases sólidas do amor.