quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pai, você foi meu herói meu bandido...




O sonho do Sr. Raul sempre foi que seu primogênito, Raulzinho, assumisse o seu lugar na empresa. Empresa que ele herdara de seu pai e pretendia deixar para os filhos. Sr Raul era um excelente engenheiro, dono de uma conceituada construtura . Passou ao filho tudo que aprendeu com seu pai e depositou expectativas em demasia em cima do pequeno Raulzinho.

O desejo que seu filho, assim como ele, se tornasse um competente engenheiro era notório e ele nunca escondeu isso de ninguém. O menino cresceu com a pressão da cobrança e como não poderia deixar de ser, ao concluir os estudos ingressou na faculdade de engenharia. Cursou, forçadamente, anos e anos de uma faculdade que ele não queria, só para fazer a vontade do pai, mas não era daquilo que o jovem Raul gostava. Ele era das letras e não dos números, ele não se via sendo engenheiro, ele queria ser advogado.

Fazer uma coisa que a gente não gosta, cumprir uma missão que nos deram sem, ao menos, nos perguntar se queríamos é um fardo pesado demais e nem todos conseguem carregar. O jovem Raul não conseguiu carregar o fardo dele. Faltando 6 meses para o final do curso, Raulzinho abandonou aquele mundo que não lhe pertencia para ir em busca dos seus sonhos. Feriu seu pai de morte. Sr Raul considerou uma traição o que o filho acabara de fazer. Trancar a faculdade e jogar para o alto anos e anos de sonhos, planos e expectativas foi demais para o coração velho e cansado do patriarca daquela família.

Pai e filho romperam os laços de união, amor, afeto e companheirismo que os uniam. Raulzinho tentou, em vão, de todas as maneiras convencer o pai de que tocaria os negócios da família atuando em outra área. Tentou explicar que a identificação com as leis era muito maior que com os números e cálculos, aliás, a identificação com esses era inexistente.

Depois do rompimento, Raulzinho saiu de casa, arrumou um emprego e teve de estudar muito pra passar em uma Universidade Federal, não podia contar com o apoio do pai. Aquele era um sonho dele e ele deveria arcar com as consequências da sua escolha. Os natais e aniversários nunca mais foram os mesmo. Raulzinho proibido de entrar na casa onde foi criado sentia falta do aconchego familiar, mas o velho Raul estava irredutível.

Os anos se passaram e o pai já cansado e calejado foi acometido por uma grave doença que o levou a morte poucos dias depois de descoberta. O pai morreu sem perdoar o filho e o filho hoje vive com a tristeza de ter perdido o amor do seu pai. A profissão dos seus sonhos, hoje não lhe proporciona nenhum prazer. O arrependimento de ter preterido o sonho do pai em favor do seu, atormenta o jovem e recém formado advogado. A vida deixou de fazer sentido quando o seu pai lhe virou as costas. O tempo não volta e o que foi feito não pode ser mudado.

O que resta ao filho, é tentar conviver com essa dor. A dor da perda e sobretudo a saudade do pai. Saudade do abraço que não foi dado e do perdão que não veio. Saudade do que poderia ter sido e não foi. SE ele tivesse terminado a faculdade e depois optasse por um segundo curso. SE ele tivesse tentando, aos poucos, convencer o pai de que ele não tinha talento para aquilo. SE ele tivesse pedido ajuda ao pai para amar aquela profissão. SE... Remorso é um sentimento muito presente em sua vida e nada será capaz de mudar isso.


Verônica








Pai
Fábio Júnior
Pai, pode ser que daqui a algum tempoHaja tempo pra gente ser maisMuito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez
Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esses vinte ou trintaLongos anos em busca de paz....
Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo, tô tentando vivendo e pedindoCom loucura pra você renascer...
Pai, eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo Pra falar de amor pra você
Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa, fala um pouco tua voz tá tão presaNos ensina esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver
Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criançaQue um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredoNos teus passos você foi mais eu
Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peitoPra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filhoNo tapete da sala de estar
Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigoNem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminhoQue hoje eu sigo em paz

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