Recebi e-mail de um amigo
querido. Um e-mail lindo, cheio de emoção, lembranças... Impossível não partilhar
com vocês.
Cinthya
“Li seu texto falando do Ara Ketu, e achei
triste e engraçado, pois a minha relação com eles é bem intima.
Eu sou apaixonado por eles, mas muito
por causa de umas férias que passei com meu pai, dos momentos que passamos
juntos ao som deles, dos ensaios que fomos, ouvimos o CD deles umas mil vezes,
e ao ler o seu texto, fiquei meio , putz...
... Em todas os momentos que estive com meu pai, seja em
barzinho, seja no carro, ele sempre colocava o Cd deles, e sempre as mesmas
musicas...Mal Acostumado, Oh meu Pai (ele dizia que era a minha cara pedindo
para ir pro ensaio), e O pout porri romântico...
... O texto em anexo, escrevi em outubro...
Depois de muitos anos, recebo a
ligação que nunca quis receber e a voz do outro lado, apenas dizia “Seu pai foi
internado e não está bem”, nesse momento a minha memória ficou perfeita, todos
os momentos felizes juntos voltaram a ela, o dia que jogamos futebol juntos,
ele me ensinando a dirigir, uma bronca que ele me deu para eu sempre fazer o
certo, ele dando a sua versão sobre a
música que tocava no som do carro, mandando colocar a mão para fora da janela,
e me mostrando como é bom sentir o vento, tudo voltou, e voltou principalmente
as primeiras férias que passei com ele. Foram férias especiais, pois já era um
rapaz, e pude ficar vários dias com ele em Salvador/BA. Ao chegar, fui ao
encontro dele numa agencia bancária, e ao entrar, ele levantou e gritou “Meu
filho chegou”, a agencia inteira olhou para mim, apenas tive vontade de correr
e voltar para casa, fui apresentado a todo mundo (parecia filho de
banqueiro...rsrsrs). E assim iniciou as férias perfeitas. No ultimo dia, no
caminho para a rodoviária, apenas o silencio falava, o único diálogo que
tivemos foi “Quer comer alguma coisa? Não”.
E o silencio continuou a reinar.
Entrei no ônibus e chorei, mas
chorei muito, e ao tentar achá-lo do lado de fora, não o encontrei, e pensei
“Ele já foi”. E assim que o ônibus fez a curva, lá estava ele, encostado
chorando, como eu.
Eu evitei ir vê-lo no hospital,
até que minhas férias chegaram e enfim, criei coragem, no avião programei muita
coisa, palavras a dizer, um abraço a dar, falar dos problemas e pedir sua
opinião, mas ao chegar lá, quando ele me viu, apenas disse “Meu filho chegou”,
lágrimas rolaram e tentei ser forte, para que ele fosse forte, fiquei . Foram
os piores dias da minha vida, e a comparação entre as férias, foi inevitável, e
me recordo, que mais novo, nas primeiras férias, as pessoas vinham falar
comigo, e diziam, seu pai tava ansioso lhe esperando, “Você só pode ser o
Diego”, e agora a cada enfermeira que entra no quarto, a mesma afirmação “Seu
pai estava ansioso para lhe ver”, “Você deve ser o Diego”.
E hoje alguns dias depois de
voltar, com a saúde dele ainda debilitada, dou de cara com um cartaz*, que me
fez parar o carro, e recordar as férias, que me fez escrever esse desabafo sem
lógica, que me fez lembrar das nossas musicas preferias.
Diego
“Mal acostumado
Você me deixou
Mal acostumado
Com o seu amor
Então volta
Traz de volta meu sorriso
Sem você não posso ser feliz”
Você me deixou
Mal acostumado
Com o seu amor
Então volta
Traz de volta meu sorriso
Sem você não posso ser feliz”
*Outdoor anunciando os Ensaios do Ara Ketu na cidade.
Um comentário:
Impossível não se emocionar com esse texto lindo...
"Mal acostumado você me deixou, mal acostumado com o seu amor, então volta."
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