terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Salve, Salve Mestre Lula!



Luiz Gonzaga foi um dos mais completos instrumentistas e um dos compositores mais criativos que a música popular brasileira pôde conhecer. Nasceu no dia 13 de dezembro de 1912 no sopé da Serra do Araripe. Na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco. O lugar que o inspirou para mais tarde cantar "lá no meu pé-de-serra, deixei ficar meu coração..." Morreu em Recife no dia 02 de Agosto de 1989.

O mestre Lula era um músico completo, compunha e cantava com a alma, falava com saudade das belezas de sua terra e com tristeza das injustiças que o povo nordestino sofria nas áridas terras do sertão de Pernambuco.

Todos os anos em Exu acontece a festa de comemoração do aniversário de Luiz Gonzaga e foi numa dessas festas que eu e minha Parceirona Cinthya, vivemos uma das mais engraçadas experiências das nossas vidas.
Todos que acompanham o Divã sabem da nossa admiração por Targino Gondim - o sanfoneiro de ouro na nossa região - Targino é um dos incentivadores da festa em homenagem ao Rei do baião, e nós que somos apaixonadas pela cultura, pela festa e pelo rei, decidimos prestigiar esse evento tão rico.

Cinthya como sempre muito precavida, fez questão de pesquisar, entrar em contato e reservar um quarto no hotel na cidade. Falou com o prestativo atendente que garantiu a reserva do quarto mesmo sem termos feito o depósito para confirmar a mesma. Embarcamos na rodoviária de Petrolina, esbaforidas, atrasadas e por pouco não perdemos o ônibus. Fomos de Petrolina a Exu tomando cerveja enquanto todos os outros passageiros (inclusive os homens) tomavam água mineral, refrigerante, água de côco e etc... Não tinha como não sermos observadas. As euforia da viagem, a alegria de estarmos viajando juntas pela primeira vez, a expectativa pela festa e a ansiedade por chegar logo se misturam causando um frisson e a balbúrdia que provocamos no ônibus era notável.

Em todas as paradas que o ônibus fazia, lá íamos nós reabastecer nosso estoque de latinhas. E algum passageiro sempre dava um jeito de puxar assunto. Certamente pra ver de perto aquelas duas mulheres ousadas que se comportavam diferente das demais.

Chagamos em Exu, não tinha reserva no hotel. O rapaz que garantiu as reservas a Cinthya estava de folga e só voltaria na próxima segunda-feira. Ficamos ao ver navios numa cidade estranha, subindo e descendo as ruas enladeiradas carregando nossas respectivas malas. Um dos passageiros do ônibus nos reconheceu perguntou o que houve e contamos a nossa história, solícito e prestativo como bom morador de cidade do interior, nos ofereceu a casa dele, que ainda estava sendo mobiliada para o seu casamento, nos dava a chave para que pudéssemos nos acomodar. Desconfiadas e medrosas como boas moradoras de uma acidade que já deixou de ser interior há tempos, recusamos graciosamente.

Continuamos a nossa procura sempre pedindo informação e contando nossa história, depois de horas de procura encontramos um mini-hotel que tinha um quarto disponível, mas tinha um "pequeno" detalhe: o banheiro do quarto estava com um problema na parte hidráulica e estava desativado. Teríamos que usar o banheiro do corredor (que não tinha lâmpada). Aceitamos, claro! Afinal, o que é um tombo pra quem está quebrado? Guardamos nossa bagagem e fomos procurar um lugar pra comer. Depois pensaríamos no banho. Mesmo com toda essa confusão não perdemos a empolgação e o sorriso não desapareceu do nosso rosto. Em um dado momento cogitamos até irmos pra festa de mala e cuia. Cinthya palhaça que só ela, tornava a nossa procura ainda mais difícil. Afinal, carregar mala pesada e rir (gargalhar) ao mesmo tempo não era muito fácil não.

Pois bem, fomos dar uma volta na cidade e conhecer o local. Paramos em um restaurante muito simples, mas muito organizados. Pedimos o cardápio, não tinha. Então, resolvemos pedir o prato da casa. Cinthya muito espirituosa e com a empolgação que lhe é peculiar, pediu, com toda ênfase que se pode existir, uma cerveja beeeeeem gelada. A garçonete, desconcertada, informou que era um estabelecimento evangélico e não vendiam bebidas alcoólicas. Sem perder o rebolado, a morena pediu então, uma fanta beeeeeem gelada e foi só a garçonete virar as costas para cairmos na gargalhada outra vez. Tudo era motivo de riso, tudo era motivo pra festa.

Depois do jantar, fomos dar mais uma volta pela cidade e paramos numa churrascaria que estava tendo um forró bem animado. A gente precisava de uma cerveja beeeeeem gelada porque a noite estava muito quente. Foi lá que conhecemos dois cearenses que estavam hospedados no mesmo hotel que nós, estavam na recepção quando chegamos e ouviram a nossa história. Atenciosos, gentis e solícitos nos fizeram companhia na churrascaria, nos deram carona de volta para o hotel, ofereceram o banheiro deles para que pudéssemos tomar banho, afinal, o do corredor não tinha lâmpada.

Chegando de volta ao hotel, pedimos um minuto para pegarmos nossas coisas no nosso quarto, armamos um planos para nos defendermos de um possível ataque, sei lá, né? Vai que eles fossem tarados.
Decidimos então, uma ficaria no nosso quarto conversando com os dois enquanto a outra tomava banho no quarto deles. Assim fizemos, deu tudo certo e eles sequer demonstraram segundas intenções. Fomos pra tão sonhada e esperada festa, fomos encontrar nosso amigo, incentivador e sanfoneiro de ouro; Targino. Contamos a nossa história pra ele, e levamos uma bronca, afinal, ele teria facilitado, e muito, as coisas pra nós, conseguiria hospedagem fácil no parque Asa Branca, na pousada Januário, perto do local onde se hospedam os artistas. No final da festa, fomos no hotel pegar nossas malas para nos instalarmos onde a banda estava instalada. Desobedecemos a decisão dele de ir dormir, e assim que ele se recolheu voltamos pra festa. Dançamos forró até o dia amanhecer, nos divertimos como nunca e só fomos dormir depois que todas as sanfonas do parque haviam se calado.

Horas mais tarde, acordamos num sobressalto, alguém tinha colocado no som do carro o CD de Targino e achamos que a festa já havia recomeçado. Doce engano. Nos recompomos do susto e nos preparamos para mais uma maratona. Visita ao museu, lugar aliás, onde nos emocionamos muito, com fotos, objetos e histórias... Depois fomos acompanhar a missa à sombra do pé do cajueiro. E ver aquela reunião de sanfoneiros, todos num só rítmo, num tom saudoso e melancólico. Foi lindo de ver.

Um final de semana que deixou saudades e que, certamente, estará guardado em nossos corações enquanto vida tivermos.
Hoje 13 de dezembro de 2011 completam exatos 09 anos dessa aventura e as lembranças permanecem vivas em minha memória.
Parça, obrigada por compartilhar comigo uma das viagens mais incríveis da minha vida.

Verônica

6 comentários:

O Divã Dellas disse...

Impossível não rir e chorar com esse relato.
Foi tudo tão real e intenso!
Você só não falou de uma cena que sei que você também nunca vai esquecer: Dominguinhos na varanda da casa de Luiz Gonzaga, tocando sua sanfona e nos cumprimentando, elogiando Targino pelas belas fãs que ele tinha.
Ai, minha parceira... Que saudades. Hoje Targino toca lá de novo...
Ah! Lembra que o nosso quarto no hotel ficou alagado? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Te amo, Parça!

O Divã Dellas disse...

Lembrei sim! Lembro de Dominguinhos educado e receptivo conosco desde a noite anterior quando chegamos e Targino nos apresentou. Lembro deles comendo cuscuz com bode pela manhã. Como esquecer o Forró na varanda da casa do Rei? É que foi uma viagem tão linda, tão rica de detalhes que se eu fosse contar tudo o post ía sair beeeeeem maior.
Lembro da foto de Gonzaguinha ao lado do caixão do pai, exposta lá no museu. Foto, aliás, que nos fez chorar compulsivamente.

Hahahaha lembro do quarto alagado.
Lembro de tudo, lembro de cada detalhe daqueles dois dias incríveis.

Enquanto eu viver, eu vou lembrar.

Beijos, Parça!

Verônica

Ricardo disse...

Pensa numa aventura!!!
As viagens assim, cheias de imprevistos e de bom humor são as melhores.
Ainda mais com um cenário rico como esse ao fundo, cheio de arte e cultura.
Show de bola!!!
Ei, me diga ai... Araripina fica perto de Exu? Porque Serra do Araripe... Araripina... deve ser bem perto!
Bjos

O Divã Dellas disse...

Araripina fica a menos de 60km de Exu. As duas ficam no Pé da Serra do Araripe.
Rsrsrs
Beijos.
Cinthya

Kiko Nascimento disse...

Muito massa meninas a aventura de vocês. Adoro forró(de verdade)!!!!
O rei do baião merece todo o esforço e fiquei com muuuuuita vontade de conhecer essa cidade e o evento.
Vevel quando vc irá lá novamente? Poderíamos marcar né?

Beijo

Kiko

O Divã Dellas disse...

Kiko, eu e Cinthya haviamos cogitado a possibilidade de irmos esse ano, mas nem rolou...
Podemos nos organizar para irmos ano que vem. O centenário de nascimento do Rei do Baião, vai acontecer uma festa linda!!!

Vamos amadeurecer a ideia?
Eu tenho coragem!

Verônica