(by Cinthya)
Certo dia eu estava no salão de beleza, cuidando dos meus abençoados cabelinhos quando ouvi o meu cabeleireiro falar sobre um amigo, que também era gay e que acabara de descobrir que era portador do virus HIV. Ele contava para uma terceira pessoa que esse amigo tinha decidido dar cabo da própria vida, que estava assombrado com a "novidade" e que não queria mais viver, não com aquela doença.
Aquilo me tocou tão fundo. Eu não sabia quem era o rapaz que estava doente, mas prestando atenção na conversa eu acabei descobrindo onde ele morava. Sai do salão com a sensação de orbigação de fazer algo por aquele moço. Como eu não tinha jeito de chegar na casa dele, de cara limpa, resolvi fazer uma carta e foram páginas e páginas de palavras de carinho. Então um dia quando eu voltava do trabalho, passei na casa dele e entregei a carta, saindo em seguida.
No dia seguinte ele me procurou. A gente não falou nada, apenas nos abraçamos e ficamos ali em silêncio. Depois conversamos muito, fiquei sabendo de muita coisa da vida dele e ele da minha. Passamos a nos ver sempre e sempre que ele se sentia sozinho, me ligava e eu ia estar com ele. Ele desistiu de morrer. Nos tornamos grandes amigos.
Ele mudava de casa e me chamava pra ir visitá-lo. Até que um dia ele mudou e eu não soube para onde, ficamos um tempo sem nos ver. Nisso o tempo foi passando e certo dia eu ia passando perto do salão de beleza onde tudo começou e uma amiga me chamou para me dizer que havia acontecido algo muito triste e que não tiveram como me avisar. O meu amigo foi encontrado morto, todo machucado, morto a pauladas e pedradas e jogado no lixão da cidade.
Eu não sei descrever o que senti naquela hora. Ele que tanto quis morrer e redescobriu a vida, acredtiou de novo, deu uma chance a si mesmo... Então, aconteceu isso. E eu não sei, eu nunca vou saber o que exatamente aconteceu. Não roubaram nada dele, nada além da vida. Uma vida que por si só já tinha sido tão difícil!
Não sei pra que tanta maldade.
Um comentário:
" Os seres humanos me assombram" (Markus Zusak - A menina que roubava livros)
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