Uma Doce Lembrança

(by Cinthya)

Ontem eu estava passeando com o meu filhote e quando passei próximo a um barzinho senti um frio imenso percorrendo a minha espinha. Um frio gostoso, um frio que foi acionado por uma lembrança boa.

No bar estava tocando uma música de Altemar Dutra e aquela voz, aquela melodia me arremessou há anos atrás, me jogou de volta à minha infância, aos finais de semana quando meus pais recebiam os amigos em casa e ouviam aquelas belas músicas que tanto falavam de amor. Vários nomes tocavam na nossa radiola (sim, porque há trinta anos os discos eram de vinil): Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Roberto Carlos, Ronivon e Luiz Gonzaga eram os mais solicitados.

Parece que eu vejo o meu pai no vigor dos seus trinta e poucos anos, tão entusiasmado com a vida, com os filhos, a esposa e o trabalho. Meu pai sempre foi um homem orgulhoso. Sempre foi um homem vigoroso e viril. E quando ouvi ontem a voz do Altemar Dutra liguei imediatamente a figura do meu pai de outrora com a figura do meu pai hoje. E vi que o tempo passa, o tempo corre, e a gente reage a essa ação.

Meu pai não tem mais tanto vigor, tanta virilidade, tantos sonhos, tanta sede de vida... Atropelos da vida fizeram seus cabelos embranquecerem, precisa de uma bengala para ajudar na sua locomoção. Mas os seus olhos e seu coração não mudaram, continuam brilhando, principalmente seu gosto pela música.

Ontem eu fiquei realmente emocionada. E senti saudade de ver o sorriso do meu pai, feliz em receber amigos, feliz em escolher seu disco preferido, ligar a radiola, pegar o violão e acompanhar os acordes de Altemar Dutra.

Pai, eu te amo tanto. Devo tanto ao Senhor por tudo que eu sou hoje, por tudo que eu aprendi a ser. Te amo tanto. Obrigada pelas fortes bases, pelos alicerces sólidos sobre os quais eu edifiquei minha vida.