segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Dia Em Que O Poeta "Baixou" Em Mim


(by Cinthya)

Peça integrante do curso de Letras da UPE (FFPP) nunca fui considerada uma aluna comum. Não gostava de fazer tudo igual na mesmice de sempre. Pra mim só tinha encanto se fosse diferente. Subir num carrinho empurrado pelos colegas e convencer outros a subirem também, um deles tocando violão, outro declamando Castro Alves e eu de braços aberto à frente de todos (a la Titanic) dividindo as atenções com a Cassandra (colega de turma e amiga de alma) e nessa 'marmota' sair desfilando pelos corredores da universidade, ou ainda comprar cerveja no barzinho lá fora, enfiar na mochila e beber dentro do pavilhão de Letras, num luau improvisado, para depois jogar as latinhas vazias no lixeiro do pavilhão de Matemática (afinal, o pessoal de Letras jamais beberia cerveja dentro do Campus! Isso é coisa do pessoal de exatas!).

Muitas história... Mas vou compartilhar uma situação ímpar que aconteceu. Estava no sétimo período e a professora de Literatura Brasileira programou uma apresentação teatral para servir de nota para a unidade. A professora era gente boa, mas não tinha uma dinâmica muito atrativa, talvez lhe faltasse uma reciclagem. Dividiu a turma em grupos e deu a cada grupo um autor de nossa literatura para que fosse montada uma apresentação onde houvesse uma entrevista com o tal autor.

Daí os grupos combinaram "entrevista no rádio", "entrevista na TV", "entrevista no jornal". Tudo coisa normal. Mas eu juntei meu grupo e falei:

- Gente o João Cabral de Melo Neto, nosso autor, está morto! E eu tenho uma idéia para essa entrevista, mas não sei se vocês aceitarão. 

- Fala Cinthya. Qual a loucura da vez?

- Me digam, qual a única forma de entrevistar um morto?

Silêncio e incredulidade.

- Não Cinthya. Por favor! - falaram já prevendo o que viria.

- Gente a única forma é "baixando" o espírito dele em alguém.

Apesar de uma relutância inicial, consegui convencer a turma a entrar nessa junto comigo. E então organizamos tudo.

O dia chegou. A roupa e os colares que seriam usados vieram de uma Mãe de Santo 'aposentada' (?) que residia em Senhor do Bonfim/BA (foi nesse dia que descobri que Mãe de Santo se aposenta).  Fechamos a sala, acendemos incensos, velas pretas, vermelhas, derramamos alfazema para "purificar" o ambiente, montamos a mesa com pipocas, flores e imagens de orixás. As meninas de branco, descalças eram as Filhas de Santo e eu, como autora da idéia, era a Mãe de Santo. Um colega posto atrás de um biombo tinha o texto com as respostas para as perguntas feitas por uma das minhas Filhas e respondidas pelo morto através de mim (eu apenas faria o movimento com os lábios).

Pois bem, tudo organizado, a turma já esperava ansiosa para adentrar a sala e assistir a apresentação. Quando a porta se abriu e o Terreiro foi exposto, o susto foi geral. A fumaça das velas e dos incensos, o cheiro da alfazema e o canto das minhas Filhas (Iansã, cadê Ogum? Foi pro mar...) envolveram todos que estavam ali presente. Um silêncio absurdo tomou conta da turma e seus cérebros demoraram um pouco para processar o que viam. O único som que se ouvia era "Sangue de Cristo Tem Poder" ou "Misericórdia" pronunciados por alguns colegas evangélicos que, por sinal, sequer entraram na sala (voltaram todos da porta, mas nós respeitamos. A intenção não era brincar com religião de ninguém!). Passado o susto incial, os CDFs balançavam a cabeça incrédulos, o pessoal do fundão entrou na harmonia do ambiente e a professora... Ah, a professora! Essa quase morria de dar risada.

Quando eu adentrei o Terreiro o riso já corria solto. Comecei a dançar e a fazer movimentos bruscos até que o espírito "baixou". Aí uma das minhas FIlhas me segurou e me ajudou a sentar. Cabeça baixa, cabelo cobrindo o rosto.

- Quem está aí? - Perguntou a Filha de Santo

- Sou eu, João - respondi com a voz grave.

- Que João?

- João Cabral de Melo... Neeeto!

E aí a entrevista aconteceu.

Não demorou muito e as outras turmas apareceram na porta para saber de onde saia aquele cheiro de Terreiro que se espalhava pelo Campus.

Nossa apresentação (apesar das minhas Filhas de Santo passarem o tempo todo lutando contra o riso que não cabia mais nelas) foi um sucesso. Tiramos a nota máxima e eu, claro, abusei do status de ter sido a Mãe de Santo que recebeu um espírito tão ilustre!
"O amor comeu minha paz e minha guerra." - João Cabral de Melo Neto

9 comentários:

Van disse...

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L !!! Adorei Cithya ! Não poderia ter feito melhor a ideia de baixar o poeta, literalmente, muito boa a sacada !!Queria estar na sua turma pra poder assistir, uma pena ! Quando me gradueei em Letras o mais perto que chegamos da criatividade foi escrever alguns livros para a feira de Letras e Arte da Universidade... Talvez tenha sido por isso que, quando estava cursando Psicologia (não conclui..)fizemos um trabalho onde tinhamos de falar sobre algum sentimento, e nosso grupo escolheu o MEDO...e foi show...fizemos uma apresentação que se iniciava no escuro, com uma faca na mão, um texto lido em voz grave e a musiquinha do filme "PSICOSE" ao fundo...adorei...encerramos com a música do Lenine - MEDO...É muito bom poder criar coisas que ninguém espera. ADORO VOCÊS !!!Grande Beijo.

Amanda disse...

Velhooooo que massaaaaa
ideia sensacional!!!eu jamais teria essa ideia na menteee uhahuahuhaua

muito bom bjus


Amanda Duarte

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Abalou o Brasil!!!! Hahaha!!!

Eu teria dado 10 também.

Beijos procê e para a Vevel,

Bela - A Divorciada

San disse...

rsrs adorei.., teria dado 10 sem pensar , mas me diga da pra fazer uma consulta???? To precisando dos famosos numeros da mega sena , só os 6 premiados rsrrs bjs

O Divã Dellas disse...

Quando Cinthya me contou essa história, pensei de imediato: vai dar post.
História hilária e irreverente.
Eita parceira criativa essa que o destino me reservou.
hahaha

Parabéns, Mãe Cinthya de Petrolina.

Verônica

Anônimo disse...

kkkkkkkkk, mulher, tu num existe mesmo!!! adorei, aliás vcs estão de parabéns, muito massa o blog. Sucesso.

BJss

Julianne

Anônimo disse...

kkk... Tá na hr de colocar um anúncio no jornal!.. "Trazemos a pessoa amada em 24h, tiramos 'cabôco' bebedor, curamos 'morróia', varizes, pano preto e pano branco, fazemos contato com o parente que se foi e muito mais... Venha conhecer os trabalhos da mãe Cinthya!!"

Bjão

Artur Costa

Guilherme Castelo disse...

Genial!!!! Ri muito aqui!!
Contando, parece mentira, né? Acontece que sou também um aluno de Letras e sei bem como nós podemos ser criativos (ou será que somos só loucos?) :)
Parabéns pela idéia e pelo post.
Obrigado por seguir o meu blog tb. Saiba que depois dessa, ganhaste também mais um fã!
Mil beijos!

Debby disse...

Olha só meninas a Selminha fez uma homenagem lindissima para vocês e como ela falou desse post vim cenferir... e precisa muito Cinthya desse surto doido de riso que tiv agora imaginado tudinho ai em cima..
Você não existe !!!! rs rs
Maravilhoso
Bjs
Debby :)