Algumas vezes eu me pego esperando da vida uma exatidão que ela não oferece. Uma concretude que anda longe de acontecer, uma certeza, um solo seguro onde eu possa repousar certa de que nada irá me incomodar, magoar, machucar, estremecer minhas bases.
Mas essa certeza não chega. E a sensação que por vezes predomina é justamente de estar atirando às cegas, andando de olhos vendados em terreno desconhecido, pisando campo minado onde somente a minha intuição e cautela podem me salvar das explosões. Trilhando uma longa estrada sem mapas ou GPS externos que me possam orientar. Como se eu mesma fosse a minha bússola.
Ás vezes eu sinto que estou fazendo parte de um grande ensaio, para um grande espetáculo, mas que não me entregaram o roteiro, nem as falas, nada. Esperam de mim o melhor, mas ninguém me diz como agir, como ser, como sentir. Ninguém me diz onde devo me posicionar, em que momento eu entro em cena, em que momento encerra a minha participação.
Pergunto a alguns amigos casados se eles sentiram em algum momento a certeza de terem encontrado a pessoa certa, de ter chegado a hora certa, de ser o casamento a escolha certa. Não. Eles não tiveram essa certeza. Um leque de situações os levou a essa decisão, afinidade, vontade de construir uma familiar, cobrança de um ou outro lado, vontade de ver o que aconteceria, paixão em alta, vontade de ter a pessoa mais perto. Mas a certeza em si, não existiu. Certeza pura e absoluta de que era a decisão mais certa a ser tomada.
Meu filho nasceu de uma gravidez não planejada, onde os acontecimentos foram surgindo e, de repente, uma grande mudança chegou, ficou, me agradou. Não tinha um plano de ação, não tinha traçado na minha cabeça que seria assim, que seria com ele, que seria naquelas circunstâncias. Não. Mas ainda assim aconteceu. E hoje me sinto muito confortável exercendo a maternidade, como se eu realmente tivesse nascido para isso.
Embora a certeza não tenha estado presente. Embora ainda hoje eu lute contra o medo de não conseguir dar conta do recado, de não conseguir incutir valores sólidos no meu filho, de não conseguir dar a ele a liberdade que ele precisa para ser uma pessoa feliz. Tenho que dosar liberdade e limites e eu tento, mas essa certeza de que estou certa, eu não tenho.
Embora a certeza não tenha estado presente. Embora ainda hoje eu lute contra o medo de não conseguir dar conta do recado, de não conseguir incutir valores sólidos no meu filho, de não conseguir dar a ele a liberdade que ele precisa para ser uma pessoa feliz. Tenho que dosar liberdade e limites e eu tento, mas essa certeza de que estou certa, eu não tenho.
É como se a gente vivesse numa teia de acontecimentos que nos conduzem a um ou outro lugar sem que necessariamente a soberania seja da nossa vontade. A gente se deixa levar e quando vê, aconteceu. Pelo menos na maioria das vezes é assim.
De repente isso é a magia da vida. De repente se as coisas fossem muito claras e a gente, ao nascer, recebesse um documento contendo tudo o que nos ia acontecer, reclamássemos da falta de mistério na vida. Reclamássemos da certeza absoluta de tudo.
As coisas são incertas mesmo. E, quem sabe, o maior encanto seja justamente esse friozinho na barriga por não saber o que me aguada daqui a uma hora, um minuto, um segundo. Quiçá esteja eu, num futuro não muito longe, a escrever meus pensamentos, sentada em meio a um agradável jardim da Toscana, ouvindo Pavarotti, tomando um bom vinho, sentindo uma paz inexplicável. Hoje eu não tenho condições de realizar isso, tenho apenas a vontade. Mas já que nessa vida tudo é tão incerto... Quem garante que eu não esteja lá um dia?
A vontade não garante a certeza. A minha vontade me move, me faz correr atrás do que eu quero e acredito. Sou determinada, tenho minhas metas. Mas a certeza de que estou certa, de que dará certo, de que é assim que tem que ser, de que serei feliz ao chegar lá... Ah... Essa certeza eu não tenho.
Para mim, a maioria das coisas é incerta. Mas isso não me impede de sonhar, de querer, de lutar.
4 comentários:
sonhe, sonhe bastante... mas viva o presente. esse é a grande certeza...!!
o futuro também terá o seu presente.
bj...nho
Oi oi oi!!!!
Tudo bem, amada? Passei uns muitos dias longe do blog, inclusive do meu que entrava só pra publicar o que já estava pronto, mas nao respondia aos comentários. Coisas da vida...
Mas , flor...
Quanta verdade nessa texto, viu?
Lindooooo!
Beijos
Selma
Descobri esse blog hoje e amei, parece que esse texto foi feito pra mim. Adorei. Luciana
.
Sonhar a vida ou viver o
sonho ainda é a grande
questão.
Amanhã, no meu blog.
Beijos, te espero,
silvioafonso
.
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