(by Cinthya)
Carlos Eduardo trabalha numa conceituada empresa de um grupo multinacional. Mas nem sempre foi assim. Há algum tempo, quando ele foi contratado, a empresa era familiar e só depois de alguns anos uma potência do ramo a comprou. A transição foi conturbada e Carlos Eduardo assistiu muitos de seus amigos serem demitidos ou pedirem demissão por conta do assédio moral que aconteceu nesse período turbulento.
Na época, um dos “pais” da empresa foi uma das maiores vítimas de perseguição e foi muito triste para todos os funcionários antigos perceberem o rumo que as coisas tomaram. O grande idealizador do projeto, o criador de todas as máquinas se viu a mercê de um bando de desentendidos que se satisfaziam em humilhá-lo. E, como era esperado, eles acabaram por demiti-lo.
Por conta de todo o assédio moral sofrido, esse fundador da empresa recorreu à justiça, tentando rever algo do que perdera lá dentro, inclusive alguns direitos que deixaram de ser pagos no ato da sua rescisão. E todos os empregados antigos sabiam desses fatos, presenciaram as humilhações e as perseguições às quais o fundador fora submetido. Tanto que, certa vez, o Carlos Eduardo adentrou a sala do fundador e disse ser uma vergonha e uma injustiça o que estavam fazendo a ele.
O tempo passou. Carlos Eduardo galgou muitos degraus dentro da organização. A sua vida melhorara bastante, isso é verdade. Mas os seus amigos já haviam saído em outras direções. Não tiveram estômago para aceitar calados a situação a que foram submetidos seus líderes e eles próprios. Tomaram as dores e decidiram rumar para outros ares. Mas Carlos Eduardo escolheu ficar.
Então, certo dia, sentado na recepção da Justiça do Trabalho, o fundador aguardava a audiência onde requeria seus direitos, requeria uma indenização por conta de tantos e tantos momentos de humilhação, de tanta perseguição e injustiça a que fora submetido. E eis que chega a empresa e traz uma testemunha para desmentir tudo. Para afirmar que nunca houve humilhação, que nunca houve perseguição, que nunca e jamais o fundador fora tratado com desrespeito.
A testemunha entra e ao olhar nos olhos do seu antigo líder, estremece. Sente um calafrio lhe percorrer a espinha, sente um buraco no estômago. Os olhos do fundador se enchem de lágrimas. Lágrimas de decepção. Na mesma hora lhe vem à mente a imagem do Carlos Eduardo entrando na sua sala e lhe dizendo que sentia muito por tudo o que estavam lhe fazendo, pela injustiça e pelas humilhações...
Carlos Eduardo estava ali para testemunhar a favor da empresa e jamais pensou que sentiria tanto nesse reencontro. Não conseguiu mais olhar nos olhos do seu antigo líder. Queria sair dali o mais rápido possível, queria fugir, correr, dizer que era verdade tudo o que o fundador reclamava e que, na verdade, ele merecia ganhar essa ação e muito mais, pois nada apagaria de sua vida as humilhações sofridas.
Carlos Eduardo calou-se, não correu, engoliu a seco e fez o seu papel de funcionário exemplar. E nesse momento ele entendeu, finalmente, porque vários dos seus amigos acabaram por pedir demissão. Chega uma hora na vida em que a gente precisa escolher entre caráter e poder.
2 comentários:
Oi Cinthya!
Muito legal o texto. Lembrei de algumas coisas que aprendemos na faculdade de ADM e do que realmente acontece na prática.
Texto bom pra refletir.
Beijos,
Selma.
Que Carlos Eduardo mais sacana!
Quando sair da empresa sairá com 3 pés, dois no chão e um na bunda! FDP!
Verônica
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