sexta-feira, 2 de novembro de 2012

É Apenas Saudade


(by Cinthya)

Eu devia ter uns doze anos quando fui, com a minha família, visitar o Cristiano e a família dele que estavam morando numa cidade vizinha. Ele era mais novo que eu, deveria ter uns dez anos de idade na época. No fundo da casa onde eles moravam passava um riacho e nós, sem avisar aos nossos pais, fomos pescar. Sentei num tronco de árvore que ficava à margem do riacho e quando menos esperei o tronco escorregou para dentro da água e eu fui junto.

Por não saber nadar me senti em desespero e só pensava na bronca que ia levar caso morresse (veja só a preocupação: levar bronca depois de morta. Enfim.). Mas o Cristiano com espírito de herói teve uma brilhante idéia para me salvar. Ele arremessou a linha do anzol para que eu a segurasse e ele me “pescasse” de lá.

Esse plano não deu certo, é claro, e acabamos encontrando outro jeito de me salvar.

O tempo passou, nós crescemos mas nunca perdemos o contato e sempre que a gente se via lembrava dessa história e dava muita risada. Cristiano tornou-se um jovem lindo. Aquele tipo de homem que quando chega causa alvoroço entre a mulherada. Sempre foi cortês, sempre carinhoso. A mãe dele era completamente apaixonada pelo filho.

As nossas famílias mudaram de cidade e passamos a nos ver pouco ou quase nada. E certo dia eu estava trabalhando quando recebi uma ligação de uma amiga em comum. O Cristiano havia se envolvido num acidente de trânsito gravíssimo e perdera a vida.

Sem que ninguém pudesse ajudá-lo, sem que ninguém pudesse salvá-lo ele se foi. E eu nem estava lá para retribuir o que ele fez por mim quando eu cai no riacho. Eu nem estava lá.

Num só acidente eu perdi dois amigos de infância e vi aquelas mães choraram a maior de todas as dores que possa existir. E procurarem um culpado e procurarem uma explicação. Não se achou nada além das lágrimas. A morte de um jovem sempre é mais impactante, pois fica em nós a sensação de que foi algo interrompido.

Ainda hoje lembro do sorriso dele, um sorriso tão iluminado. Ele seria um homem encantador, não tenho dúvidas disso. E nesse dia, nesse Dia Da Saudade eu me recordo dele com um calorzinho no peito, com as lembranças de nossas travessuras, com a forte ligação que ele tinha com a mãe.

Algumas pessoas passam por nós sem nunca sair de nós. E viva a saudade, pois ela é prova de que coisas boas, coisas muito boas foram vividas.

PS: a última vez que o vi ele jogava sinuca e cantarolava: “Minha Meiga Senhorita, o que eu tenho é quase nada... Tenho um violão que é pras noites de lua, tem uma varanda que é minha e que é tua... Vem morar comigo, Meiga Senhorita, vem morar comigo...”

Saudade...

4 comentários:

Jane Quintela de Carvalho disse...

Oi meninas... eu penso que saudade é um sentimento bom, o que não podemos sentir é arrependimento... beijosss!!!

sérgio figueiredo disse...

bonita serenata a completar um momento na vida que hoje se envolve com a tristeza mas, dando lugar à saudade que reflete o horizonte dos "momentos bem vividos".

ele também tem saudade...!!

bom final de semana

Gui - Descrevendo a vida, assim como ela é... disse...

Saudade é um amor que nunca morre...

lindo texto... bjs

O Divã Dellas disse...

Jane, Sergio e Gui...
Saudade é uma palavra linda e um sentimento gostoso de se sentir. Como falei no texto, é a prova de que algo deu certo.
Grande abraço em vcs e um excelente final de semana.
Adoro vocês aqui!!!!!
Cinthya