quarta-feira, 30 de maio de 2012

E Por Falar Em Verdade...


(by Cinthya)
 
É claro que ainda existem mentiras sustentadas por mim. Verdades que nunca deixei vir à tona. É óbvio que sim. Todo mundo tem mentiras inconfessáveis, é natural da relação “consciente x inconsciente” jogar para o porão de nossa mente fatos que, por algum motivo, nos machucam, incomodam, perturbam.

Freud explicou tudo isso com maestria. Ele sustentou a teoria de que nos empenhamos tanto em guardar certas coisas devido a dor que elas nos causam/causaram que em decorrência disso adquirimos traumas e neuras. E é preciso um tratamento longo para que o problema seja resolvido. E a cura, pasmem, está na fala. Colocar pra fora, expelir o inconfessável, destrancar a porta do porão e exorcizar os monstros e demônios do nosso inconsciente. Falar a verdade.

E é essa verdade que tento sustentar na minha vida, muito embora nem sempre obtenha êxito, que isso fique claro. Mas a verdade é a base para uma vida saudável, para relacionamentos saudáveis, amizades verdadeiras e romances concretos. A verdade nos livra de incômodos do tipo ansiedade, medo de ser descoberta a nossa falha (existe coisa mais angustiante do que o medo de que alguém descubra a nossa mentira?).

Eu tinha 18 anos na época, recém-chegada na cidade e com uma amizade agradável e sincera com a Fran (vou chama-la assim). Então a gente estudava no mesmo curso de inglês e sempre estávamos juntas. Certa feita ela começou a paquerar um rapaz, até aí tudo bem. Mas... Eis que num belo dia esse rapaz me encontra no centro da cidade e me dá uma carona. Mais velho que eu e ela, ele me cantou de forma inteligente e envolvente e eu me senti balançada.

Ao descer do carro fui direto pra casa dela e disse que precisávamos ter uma conversa. Respirei fundo e contei. Falei sobre a cantada e disse que não era bem isso o que me incomodava. O que me doía era o fato de eu ter gostado e me sentido atraída por ele, mesmo sabendo que ele era paquera dela. Pronto. Falei. Ela ficou me olhando, calada, os olhos marejados e eu esperando uma reação, enfim.

Daí ela disse: “Eu nunca tive uma amiga assim”, no que eu respondi: “Que traiu a sua confiança?” e ela: “Que me falou a verdade.” E começou a chorar abraçada comigo. Ela então disse que eu tinha carta branca para ficar com ele, até porque na noite anterior ele a tinha esnobado. Mas aquela situação mexeu tanto comigo que ao mesmo tempo em que confessei meu crime, me livrei dele, ou seja, ao falar sobre o meu interesse esse interesse se desfez e nossa amizade continuou firme. Soubemos driblar esse episódio.

Para o meu filho eu sempre oriento falar a verdade, por mais chocante que ela possa ser. Lembro, como hoje, que aos 21 anos eu cheguei em casa pela manhã, toda empolgada, sorriso engolindo as orelhas, e ao olhar nos olhos da minha mãe eu disse: “Mãe, já era. Não sou mais virgem!”. Ela quase caiu pra trás, mas eu me senti aliviada ao contar a verdade. Por mais que ela tenha brigado, por mais que eu tenha passado dias e mais dias ouvindo sermão, eu estava aliviada, transparente, limpa. Não tinha a angustia e o medo de a qualquer momento ela descobrir. Eu já havia contado. E pus uma roupa vermelha e sai, achando que agora sim “Eu Sou Mulher”.

Então é isso: eu falo logo e enfrento logo o que tiver que enfrentar porque não gosto de suspense. A verdade cai bem e nos fortalece. Um dia hei de abrir a porta do meu porão e expulsar de lá todos os monstros que ainda guardo trancafiados, amordaçados dentro de mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela coragem pra expulsar seus monstros!

O problema é quando colocar o monstro pra fora significar perdas significativas!

Então temos que submeter as dores à velha balança das tomadas de decisões... O que dói mais... amansar o monstro a cada dia ou a dor do estrago causado no momento em que ele for solto???

Já soltei monstros, mas há monstros presos!
Rodrigo

Mário Pires disse...

Muito bom. Confesso que tenho passado por algumas coisas do tipo e as vezes dizer as verdades, as minhas verdades do que penso e sou, acabam realmente magoando algumas pessooas. Outras agiram como tua amiga. Muito bem gostei do texto! parabéns!! :0)

Selma Helena. disse...

Há monstrinhos em minute sei que não sairão nunca...mas eles estão dormindo: ) !
Parabéns pela atitude!
Beijos !!!
Selma.