sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Hora Do Recomeço


(by Cinthya)

Numa certa manhã a gente acorda e percebe que algo mudou. A visão está clara, limpa e nítida. O corpo, embora cansado, encontra disposição para seguir adiante. O coração, embora choroso, decide acordar e agora aponta para outra direção.

Parece que durante o sono, algo foi acionado. Alguma tecla foi clicada e o reset foi acionado. É como se a ficha que por durante tanto tempo ficou balançando na beira do penhasco, sem saber se caia ou se lá permanecia, sem conseguir decidir entre enxergar ou continuar presa num faz de conta viciante, decidisse então, cair.

Sim, o faz de conta é viciante. Como droga ele vai te sugando tudo até que, por fim, você se procura no espelho e não se encontra mais. Porque aqueles olhos mortos não podem, de forma alguma, ser os mesmo de onde outrora jorravam sonhos. O faz de conta é viciante. Ele se alimenta da sua fraqueza e em contra partida oferece a falsa certeza de que você tem alguém, de que você não está só, de que você foi escolhido.

Você ornamenta o jardim com flores de papel, porque julga importante que o vizinho, ao passar por sua fachada, veja que existe um jardim, um jardim florido. As pessoas passam por fora e, dessa forma, nem percebem que suas flores não são reais, que elas não passam de frágeis flores de papel, que de tão falsas, nem perfume emanam. Você se torna um jardineiro de flores mortas, embora coloridas. Flores de papel marchê que derreterão na primeira chuva, que perderão a cor após um longo dia de sol.

Um dia você se cansa do faz de conta. Um dia você percebe que nada é mais importante do que a sua própria felicidade. Um dia você abre a janela e sente muito profundamente a necessidade do perfume que as suas falsas flores não oferecem. E você olha para os transeuntes que sempre passam a admirar seu jardim e não se importa mais com o que eles vêem, ou pensam, ou julgam. Você não mais se importa porque você acorda também para a hipocrisia alheia.

Numa certa manhã a ficha cai. Cai no lado onde apenas a verdade é importante e durante essa queda livre você saboreia a liberdade que há muito tempo não lhe envolvia. Abre os braços num salto e não há medo no seu semblante. Com os olhos fechados você apenas se permite cair e, loucamente, você confia. Você confia que algo vai lhe salvar, que algo vai lhe acolher, que algo vai lhe abraçar e abrandar a sua queda. Você simplesmente se joga. Simplesmente se entrega e volta a sentir-se vivo, deliciosamente vivo.

Um dia você acorda e, como num passe de mágica, você simplesmente se arremessa, sem medo, sem dúvidas. Você junta as roupas, arruma as malas e se joga na estrada. Na certeza de que o amor vai lhe receber. O amor que lhe manteve vivo, aquele amor que você tem por você mesmo e que por muito tempo esteve sufocado num canto. Esse amor vai lhe sustentar e vai lhe receber de braços abertos. Porque a vida lá fora chama e o tempo não aceita ser apenas um telespectador enquanto você encena o seu drama no palco da sua existência.

Se joga!

3 comentários:

O Divã Dellas disse...

Foi pra mim, né?

Confesse que foi pra mim...

Me caiu como uma luva.

Obrigada!

Verônica

Debby disse...

Circulou, circulou...
É tão maravilhoso esse nosso amor.. rsrs
É isso aiii se joga... levanta, sacode a poeira e dá a volta por cim Cyyyy

Amei.. amei e amei
Bjs e um ótimo final de semana
Debby :)

Selma Helena. disse...

Delícia de texto! Eita que eu queria ser mais corajosa...já me joguei algumas vezes, sabe? Menina...machuquei feio de mais ! hahahaha...mas continuo me jogando vez outra.
Beijos,
Selma.