(by Cinthya)
Numa certa manhã a gente acorda e
percebe que algo mudou. A visão está clara, limpa e nítida. O corpo, embora
cansado, encontra disposição para seguir adiante. O coração, embora choroso,
decide acordar e agora aponta para outra direção.
Parece que durante o sono, algo
foi acionado. Alguma tecla foi clicada e o reset foi acionado. É como se a
ficha que por durante tanto tempo ficou balançando na beira do penhasco, sem
saber se caia ou se lá permanecia, sem conseguir decidir entre enxergar ou
continuar presa num faz de conta viciante, decidisse então, cair.
Sim, o faz de conta é viciante.
Como droga ele vai te sugando tudo até que, por fim, você se procura no espelho
e não se encontra mais. Porque aqueles olhos mortos não podem, de forma alguma, ser
os mesmo de onde outrora jorravam sonhos. O faz de conta é viciante. Ele se
alimenta da sua fraqueza e em contra partida oferece a falsa certeza de que você
tem alguém, de que você não está só, de que você foi escolhido.
Você ornamenta o jardim com
flores de papel, porque julga importante que o vizinho, ao passar por sua
fachada, veja que existe um jardim, um jardim florido. As pessoas passam por
fora e, dessa forma, nem percebem que suas flores não são reais, que elas não
passam de frágeis flores de papel, que de tão falsas, nem perfume emanam. Você
se torna um jardineiro de flores mortas, embora coloridas. Flores de papel marchê
que derreterão na primeira chuva, que perderão a cor após um longo dia de sol.
Um dia você se cansa do faz de
conta. Um dia você percebe que nada é mais importante do que a sua própria
felicidade. Um dia você abre a janela e sente muito profundamente a necessidade
do perfume que as suas falsas flores não oferecem. E você olha para os
transeuntes que sempre passam a admirar seu jardim e não se importa mais com o
que eles vêem, ou pensam, ou julgam. Você não mais se importa porque você acorda
também para a hipocrisia alheia.
Numa certa manhã a ficha cai. Cai
no lado onde apenas a verdade é importante e durante essa queda livre você saboreia
a liberdade que há muito tempo não lhe envolvia. Abre os braços num salto
e não há medo no seu semblante. Com os olhos fechados você apenas se
permite cair e, loucamente, você confia. Você confia que algo vai lhe salvar,
que algo vai lhe acolher, que algo vai lhe abraçar e abrandar a sua queda. Você simplesmente se joga.
Simplesmente se entrega e volta a sentir-se vivo, deliciosamente vivo.
Um dia você acorda e, como num
passe de mágica, você simplesmente se arremessa, sem medo, sem dúvidas. Você
junta as roupas, arruma as malas e se joga na estrada. Na certeza de que o amor
vai lhe receber. O amor que lhe manteve vivo, aquele amor que você tem por você
mesmo e que por muito tempo esteve sufocado num canto. Esse amor vai lhe
sustentar e vai lhe receber de braços abertos. Porque a vida lá fora chama e o
tempo não aceita ser apenas um telespectador enquanto você encena o seu drama
no palco da sua existência.
Se joga!
3 comentários:
Foi pra mim, né?
Confesse que foi pra mim...
Me caiu como uma luva.
Obrigada!
Verônica
Circulou, circulou...
É tão maravilhoso esse nosso amor.. rsrs
É isso aiii se joga... levanta, sacode a poeira e dá a volta por cim Cyyyy
Amei.. amei e amei
Bjs e um ótimo final de semana
Debby :)
Delícia de texto! Eita que eu queria ser mais corajosa...já me joguei algumas vezes, sabe? Menina...machuquei feio de mais ! hahahaha...mas continuo me jogando vez outra.
Beijos,
Selma.
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