(by Cinthya)
Nenhum tipo de dependência me atrai, na verdade, todo e
qualquer tipo de dependência me assusta, me assombra, me dá calafrios. Acho
extremamente triste uma pessoa algemada num vício, seja ele qual for. Pessoas
que perderam as rédeas de sua vida, de sua vontade. Pessoas que anularam a sua
identidade, zeraram os arquivos em prol de algo que para elas se tornou vital
(vital?). E, apesar de tudo, a dependência está mais presente do que se possa
imaginar.
Quando falo em dependência não me refiro apenas a
dependência química ou alcóolica. Existe um outro tipo de dependência que, ao
meu ver, é tão triste e perigosa quanto essas. Existem pessoas que sofrem de
dependência emocional. Pessoas que se tornam reféns de seus sentimentos e fazem
em volta de si e da pessoa “amada” uma teia perigosa.
Pessoas dependentes emocionais não constroem seus próprios
castelos, seus sonhos. Elas depositam no outro todas as suas expectativas,
todos os seus desejos, toda a sua sede de felicidade. Tudo dela é o outro, está
no outro, depende do outro. Ela projeta no outro o que ela quer pra si. E aos
poucos sua identidade se perde em meio a tanta “entrega”.
Quantas mulheres casadas deixam de viver e passam a ser a
sombra do marido. Quantos homens não se conformam com o fim do relacionamento e
dão cabo da vida da parceira. Quantos crimes são cometidos em nome de um “amor”
rompido. É triste, mas as pessoas acreditam mesmo que podem ser donos de outras
pessoas. Que não podem viver sozinhas, serem largadas. Que suas vidas dependem
completa e totalmente do ser amado.
Pessoas com essa dependência emocional tendem a ser
pegajosas, grudentas. Tendem a ter um zelo fora do comum com o outro, a anular
suas próprias vontades em nome da satisfação do parceiro. Pessoas assim abrem
mão do que mais querem apenas para satisfazer o parceiro, que na maioria das
vezes, não tá nem aí pro que ela sente ou deixa de sentir.
Eu não concordo que se intitule amor o fato de você se
anular numa relação, o fato de você sepultar suas vontades em prol das vontades
do outro. Para mim, ninguém que não tenha amor próprio consegue, de fato, amar
alguém. Tudo começa com nós mesmos, em nós mesmos. Ninguém é feliz se anulando
na vida. Ninguém. Ninguém vai muito longe na fantasia de manter um casamento
feliz, tendo que abrir mão de sua identidade em nome disso.
Colocar a nossa vida, os nossos sonhos, as nossas vontades
nas mãos do outro não é um ato de amor. O amor não é burro. Doar-se ao ponto de
perder o contato com o chão é assinar contrato com a infelicidade, porque
ninguém tem paz se não tiver firmeza, se não sentir o solo, se não souber mais
que se é.
Amar é bom e necessário. Mas o amor não escraviza, não
sufoca, não nos dá escritura de posse. Não podemos ser donos de ninguém.
Ninguém pode fazer por nós o que cabe apenas a nós fazer. Ninguém pode sonhar
por nós. Isso não existe. Um casal é formado por DOIS seres, cada um com a sua
identidade, cada um com o seu jeito e os dois trabalhando juntos na construção
de uma história em comum. Isso é o bonito do amor.
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