Se eu fosse colocar a minha vida dentro de uma metáfora, talvez dissesse que sou uma andarilha a caminhar por estradas, ora empoeiradas, ora chuvosas, ora desertas, ora movimentadas. Estradas solitárias me levam não sei pra onde. Estradas perdidas dentro de um deserto escaldante onde a água não aparece nem nos meus mais loucos delírios e também estradas floridas a percorrer os mais belos e abundantes oásis.
Também é comum me deparar com bifurcações e pensar bem antes de decidir qual estrada seguir. Às vezes chove e eu não encontro abrigo. Às vezes faz sol escaldante e não encontro sombra. Mas na grande maioria dos dias o clima está agradável e a caminhada se torna prazerosa.
O que eu percebi é que nunca solto a minha bagagem. Na minha mala acumulo as experiências, ou melhor, o resultado das experiências vividas. De uma forma nem tão organizada assim trago na minha mala os sonhos de uma vida toda, as alegrias compartilhadas com amigos, as gargalhadas gostosas, as desilusões, o primeiro amor que nunca me quis porque eu era feia demais (Coitado. Até pedi desculpas a ele), as lágrimas que derramei.
Trago também um bocado de dores, um punhado generoso de fel, pitadas repetidas de medo. Medo que senti de não dar conta dos compromissos que assumi “sozinha”. Medo de não conseguir passar valores sólidos pro meu filho, de falhar na sua criação. Trago o amargo quase incurável de ter sido rejeitada na hora que eu mais precisava de apoio. Isso foi de lascar, realmente, foi de lascar com a boca do balão. Mas não foi maior que minha força. E continuei.
Tem também um bocado de lágrimas, derramadas no silêncio solitário do meu quarto. Soluços abafados que só eu sei como doíam. E o resultado de tudo isso trago na minha mala, não tenho como negar. As dores passaram, eu sobrevivi, pulei as barreiras, escalei as montanhas, optei por não entregar os pontos.
Mas de cada situação sobrou uma reflexo, um sentimento que, eu querendo ou não, respinga em tudo o que eu faço. Então senhores e senhoras, não me julguem. Eu sei as dores que eu trago, eu sei onde o punhal entrou e sei quanto tempo demorou para cicatrizar o corte. Eu sei o preço que tive que pagar para hoje saber ser completa indiferente de qualquer coisa.
Hoje eu aprendi a ser dura e a lutar com unhas e dentes para não deixar ninguém destruir o que eu construí sozinha. O templo é meu. A paz conquistada é minha. O equilíbrio chegou e eu zelo pelo meu templo interior. Não é qualquer um que vai ter o inenarrável prazer de adentrar a minha paz.
Um dia eu tive que escolher o que fazer com as pedras que eu recebi. Eu poderia arremessá-las de volta nos algozes. Mas, iria contra minha natureza. Achei mais sábio usá-las na construção do meu castelo e hoje sou a Rainha da Minha Vida. No meu país mando eu. Querendo agregar, chegue junto. Querendo tomar as rédeas de minhas mãos, pode passar. Não quero.
É assim. A minha metáfora é essa. Uma andarilha a percorrer a pé várias estradas, sempre com sua bagagem recheada de sensações que, inevitavelmente, se tornaram o resultado de mim... Ou eu me tornei o resultado delas.
E você o que traz na mala?
3 comentários:
Um dos melhores textos que já li...
Parabéns, Parça! A cada texto você se supera.
Não é à toa que eu sou sua fã! ;)
Minha amiga, respondendo a sua pergunta: Minha mala é cheia, nela tenho tudo que preciso, mas não se engane, ela é leve...
Nela trago amores, valores, sonhos, sabores, realizações e dissabores...
Ao logo dessa caminhada aprendi tantas coisas, mas uma coisa que não me sai do pensamento é: Somos TOTALMENTE responsáveis por nossos sucessos e insucessos... Somos os responsáveis por cuidar de nós mesmos e dos nossos corações, o que quer que a outra pessoa tenha feito conosco, há uma parcela de culpa nossa. Quando deixamos a fantasia de vítima guardada no armário conseguimos caminhar com mais leveza.
Seu texto nos leva a uma profunda reflexão.
Amei!
Te amo! Beijos!
Verônica
Era pra chorar?
Porque eu chorei aqui...
Meu Deus que texto lindo!!!!!!!
Já li e reli...
Muito emocionante.
Beijos
Selma.
Selminha... Saudade de vc!
Pois é... Eu também chorei com ele... Foi muito auto-referencial.
Cinthya
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